Capítulo 09 Troca de Sangue

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Erin

Levi foi correndo para seu quarto, a casa nunca lhe parecera tão grande. Lyer gemia e se contorcia em sua cama, ele ainda estava muito mal e muito quente para um dragão da água, isso o mataria se Levi não fizesse algo. Ele pegou um balde de água e gelo e fez uma compressa fria.

Levi e Lyer já estavam muito ligados, ele ainda não havia feito o ritual de troca, onde se ligaria eternamente ao dragão, mas já sentia sua dor, quando encostava o pano molhado na pele escamosa do dragão sentia frio como se estivesse a colocando em sua própria pele.

Seu pai entrou no quarto e viu o estado do dragão.

- Você sabe meu filho que esse dragão não pode ser seu escolhido.

- Por que não? - perguntou Levi já sabendo a resposta que ele daria, mas com rejeição em aceitar.

- Você já sabe a resposta, e se não sabe apenas olhe para esse dragão. Ele não viverá muito mais.

- Isso não é verdade, ele vai se recuperar, eu sei que vai.

À essa altura Levi queria chorar, os olhos se enchiam de lágrimas que queriam descer, mas ele às segurava com todas as suas forças.

- Ano que vem você irá tentar novamente e irá trazer um dragão forte e que esteja à altura de um membro da família Draien

- Eu não quero outro, quero o Lyer.

- Vá se arrumar que logo daremos início ao ritual de troca.

- Pai, como está a Ravel? - perguntou ele quando o pai estava virando para sair do quarto

- Ainda estão procurando por ela. Não se preocupe, ela é muito forte.

Pouco tempo após a visita de seu pai, Levi suspirou profundamente tomando coragem para fazer o que decidira. Ele sabia que o pai ficaria muito nervoso, mas não via outra saída.

Ele pegou o dragão nos braços e se dirigiu para o saguão de eventos, este parecia um estádio fechado, a arquibancada era dividida entre as cidades-estados, as principais casas em destaque das demais e o centro tinha todas as crianças que tiveram sucesso e seus dragões enfileirados de frente para uma mesa composta pelos três membros do conselho ancião.

Levi se dirigiu para a fila de Soren. Havia três outros garotos e uma garota. Apenas cinco crianças da Casa Draien tinham tido êxito, isto é, sem saber se Ravel fracassara também, um número extremamente baixo se comparado aos anos anteriores, sempre acima de vinte.

Os nomes começaram a ser chamados, um a um eles iam até a mesa, sentavam numa cadeira, ao lado oposto era colocado o dragão e ambos ligados por suas veias à um misturador, duas bolsas que colhia o sangue de ambos, misturava em um tanque e devolvia aos dois, um ritual que para Erin pareceu muito estranho, como um transplante de sangue de seu mundo. Todos sabem que já nascemos conectados à dragões através da alma e essa ligação humano-dragão garantia também a conexão carnal, impossível de outra forma que não a troca de sangue.

Erin não queria fazer aquilo, não parecia ser algo que alguém em sã consciência faria, muito menos uma nação inteira, mas sentia que tinha de fazer, como um dever que não entendemos, e mesmo assim temos que cumprir.

Ela não queria e não precisava já que aquele mundo nem a conhecia, mas sentia que necessitava daquilo tanto quanto necessitava de respirar e foi por isso que aceitou quando o pai do Levi ofereceu inscrevê-la para participar da cerimônia como convidada da família Draien.

Ela percebia que as pessoas ficavam encarando ela por ser tão branca e de cabelos tão claros, além de não conhecer nada dali.

- Eu ouvi dizer que se você fazer isso com um dragão que já tem companheiro ou com um rebelde você morre. - dizia um garoto ao lado de Erin e o outro respondeu.

- Se você não for forte o bastante para subjugar o sangue do dragão você morre como se fosse um veneno.

"- É claro, isso se chama rejeição de transplante, é o que acontece quando se coloca sangue animal em humano. " - pensou Erin sem realmente compreender a razão daquilo, que parecia ter valor apenas cultural e religioso.

Logo chegou a sua vez, eles eram chamados em ordem alfabética, e quando eram chamados as pessoas de sua cidade-estado batiam palmas e assobiavam, mas quando chegou a vez de Erin Tuller todos ficaram calados, como se só houvesse ela, seu dragão e bancos de pedra vazios.

Ela andou até a mesa, colocou o dragão que carregava no colo sobre esta e sentou-se, então estendeu o braço sobre um suporte de metal como lhe foi instruído, uma mulher delicada furou sua veia com uma agulha e imediatamente seu sangue começou a encher uma das pequenas bolsas.

Ela ficou tonta quando seu sangue começou a deixar seu corpo rápido demais, no momento queria apenas deitar, o enjôo já começava a incomodá-la, sem contar o cansaço que a castigava. Fazer isso sentada era muito desconfortável, mas o pior foi quando o sangue misturado entrou em sua veia, ela sentia queimar por dentro, mas em compensação sentia-se como se estivesse ficando mais forte a cada gota que entrava em seu organismo e o cansaço esvaindo-se aos poucos.

- Você está bem? - perguntou ela ao dragão, sentia-se tão culpada de ferir o dragão tirando sei sangue.

- Sim, você está? Acho que meu sangue é muito forte para seu corpo magro. - respondeu o dragão e Erin quase caiu da cadeira com o susto.

- Você fala... - disse ela sem acreditar que realmente o ouvira, só podia ser uma alucinação.

- Sim, mas você não podia me ouvir.

- Como isso é possível?

- Não tenho cordas vocais desenvolvidas para a fala, no entanto ouço seus pensamentos e você os meus.

Logo terminou, antes de Erin voltar à seu lugar foi chamado outro nome, Levi Draien. Ele surgiu dentre os outros que estavam à frente dele, carregando seu dragão nos braços e com expressão assustada. Ele sabia que o que estava prestes a fazer seria muito arriscado, mas já estava decidido.

Ele avançou em direção e cadeira que o aguardava, no entanto antes disso ele foi surpreendido por um soco no rosto, o mais forte que já levara e caiu aos pés de seu agressor, segurando com força e delicadeza o dragão para protegê-lo. Seu irmão estava diante dele com o punho cerrado pronto para bater nele novamente caso fosse preciso.

- O que você pensa que está fazendo? - pergunta Ahri com raiva.

- Eu também vou fazer a troca de sangue.

- Não, você não vai!

- Eu vou sim! - Teimou Levi, ele era um garoto muito dócil e obediente, mas sempre que tomava uma decisão não mudava mais. - Eu sei que se eu dividir a dor dele posso salvá-lo, é o que sinto.

- Salvá-lo? Você vai se condenar a morte.

- Parem já com isso! - interveio seu pai antes que a situação fugisse do controle mais do que já estava.

Ele pegou Levi pelo braço e o arrastou para longe dali.

No quarto Levi se jogou na cama chorando, ele devia saber que acabaria assim.

- O que você pensa que estava fazendo? Você sabe as consequências de fazer uma troca de sangue com um dragão e ele morrer, então me diga por que?

- Eu preciso fazer isso pai.

- Isso é um comprô que vocês estão fazendo? Querem ver a ruína de nossa casa? Você trás um dragão fraco e moribundo e expõe isso à todos como um troféu e sua irmã fracassa novamente e não tem nem coragem de voltar para casa. Quem permanecerá leal à vocês ou temerá a casa Draien se vocês se mostram tão fracos?

- A Ravel não fugiu, ela não faria isso. Ela está em perigo, perdida na floresta do medo.

- Isso não faz diferença, quando o ritual de troca terminar não seremos mais a casa que lidera a nação, teremos sorte se alguma casa nos apoiar, se não irão nos atacar e nos matar para tomarem nossas terras e você deu o motivo que precisavam para não nos temerem mais.

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Aqui está mais um capítulo
Votem e comentem hein😜
Quero ler muito comentários.
Até logo...

Erin, A Chave Dos MundosWhere stories live. Discover now