Para Ravel não havia passado nenhum segundo desde Erin partira daquele mundo e voltara, para ela o mundo havia acabado, desmoronado em cima dela esmagando-a com uma dor mil vez pior que a morte.
Ela levantou-se decidida, chorar era para as garotinhas assustadas e ela não era uma garotinha assustada, ela iria agir. Conhecia maneiras de trazer os mortos de volta à vida, não dominava essas técnicas, mas sabia que era possível e sabia que isso a modificaria, modificaria Levi, no entanto ele voltaria e não importava o preço valia a pena ser pago.
Primeiramente levantou-se, a dor se tornando ódio. Encaminhou-se até Erin e lhe deu um soco, o golpe fora tão forte que a garota magra foi atirada ao chão no mesmo instante. Erin ficou aturdida por um instante e então encarou o corpo inerte de Levi sem se importar de levantar ou revidar o golpe. Ela nem sentia a dor no rosto, estava entorarecia que nada mais no mundo existia, apenas a sua promessa ainda dita em sussurros.
- Não sei quem você é! - disse Ravel com raiva, estava fora de si. - Mas desde que chegou aqui tenho a impressão que não é nada bom. Eu sei que aquela mulher na batalha de ontem estava atrás de você e por isso nos atacou, ficou óbvio que você era o alvo dela.
Ela parou por um instante esperando a reação de Erin que não veio e então continuou.
- O Ahri se feriu e Levi está morto por sua culpa! Eu ouvi você incentivando ele a fazer o ritual de troca com o dragão moribundo, você matou! - gritou ela, Erin não era totalmente culpada, Levi havia feito sua escolha, a culpa de sua morte não recaía sobre os ombros de ninguém e Ravel sabia disso, mas não conseguia ver desse jeito, seu coração culpava Erin e o coração de Erin se culpava por isso, então não se defendeu.
Erin parecia nem está ali, estava absorta em sua própria dor, fechando como dentro de uma carapaça e Ravel precisava extravasar seus sentimentos ou eles a consumiria por dentro.
O pai de Ravel tentou controlar ela, tentou fazê-la recobrar o comando racional de suas ações, contudo não houve jeito. Ravel partiu em disparada, correu dali como se sua vida dependesse disso e parecia depender. Ela precisava ficar sozinha, precisava se afastar de tudo e de todos e quando estivesse pronta partiria em sua nova jornada, a que escolhera tomar para si, dominaria a magia proibida da morte e traria seu irmão de volta.
***
Se passaram três dias desde o sumiço de Ravel, alguns homens se reuniram para procurar por ela quando a noite caiu, mas nada encontraram, mesmo seu dragão sendo imenso e o mesmo se repetiu nos dias seguintes. Ravel parecia ter sumido do mundo como se nunca tivesse existido.
Assim que Ravel deixara o local às pressas ela se refugiou em uma clareira que costumava brincar com os irmãos. Tudo a fazia se lembrar de Levi, de seu sorriso enquanto ela o empurrava no rio ou quando ele se encolhia de medo dos sons da floresta ao passarem a noite ao relento após acamparem e como ele a procurava quando estava com medo.
Também lembrava de momentos felizes, mas agora eles doíam tanto, era insuportável, sufocante e ela queria fazer qualquer coisa para essa sensação passar, sentia vontade de abrir o peito e tirar o coração fora e faria se isso fosse diminuir um pouquinho sua dor.
Dor que se transformava em sentimentos ruins, ódio principalmente, ódio da Erin, de seu pai, de Ahri e dela por não ter o impedido, ódio daquele teste idiota, daquela cidade e de todos que viviam nela. Ela sentia vontade de agir como deus, destruir tudo e recomeçar o mundo do zero, um mundo melhor do que este.
Ela precisava fazer algo, precisava agir ou enlouqueceria e então se decidira deixando o ódio e a força a dominar em vez da dor. Ela levantou-se decidida e chamou por Mehnir, ele demorou alguns segundos para responder e ela pensou que ele não o faria, mas assim que pediu para ele encontrá-la Mehnir levantou vôo e foi para o meio à floresta, onde ela se encontrava.
Ravel subiu nas costas de Mehnir e eles voaram pelos céus, mas dessa vez não houve espaço para diversão ou admiração, havia apenas um vazio se preenchendo por um sentimento negro que ela desconhecia e jamais imaginara ser possível sentir.
Ela sabia quem possuía poder para trazer uma pessoa do mundo dos mortos e sabia onde encontrá-los. Havia boatos que haviam trazido Desmontt dos mortos após mil anos que ele deixara este mundo, se tivessem sido capazes de trazer ele de volta à vida seria fácil trazer Levi e se fossem só boatos ela mataria todos para acabar logo com a guerra que se mostrava cada vez mais iminente.
Ravel precisava apenas de uma moeda de troca para consegui que fizessem seu desejo e já sabia o que seria. Agora era só colocar em prática.
Duas horas depois Ravel estava ajoelhada aos pés de Desmontt, seus acólitos estavam à procura de Mehnir e jamais imaginariam que ele viria até eles e sem intenção de lutar. Ele sentando em seu novo trono do país recém-tomado, imponente e pomposo como um rei de verdade, como fora criado para ser, mas que lhe roubaram, agora sua cidade natal lhe pertencia assim como era para ter sido mil anos atrás e logo o mundo seria seu, não apenas este mundo, todos os mundos, precisava apenas encontrar a chave que abriria suas portas.
Ravel olhou para a frente e sentou-se sobre os calcanhares encarando Desmontt frente à frente, não sabia de onde vinha esse sentimento novo, mas admirava Desmontt, queria ser como ele, ter o que ele tinha, principalmente seu poder.
Os guardas de Desmontt se alarmaram quando ela tirou um punhal da cintura e apontaram suas lanças para ela, idiotas. Se quisesse Mehnir se libertária das correntes que o prendiam voluntariamente enquanto a reunião se desenrolava e mataria todos presente ali e Desmontt sabia que ele tinha poder para isso.
- Eu Ravel da casa Draien, filha de Kahri, juro fidelidade eterna a você Desmontt, o do imperador dos mundos e à sua causa, dando minha vida se assim necessário. - disse ela cortando a própria palma e deixando o sangue escorrer pelo piso liso de mármore branco, mas a maioria caindo em uma de taça de cristal.
- Um juramento de sangue só pode ser desfeito com a morte. - disse Desmontt como se quisesse persuadi-la a desistir ou testar se ela hesitaria, mas Ravel não o fez, pegou a taça dada por um serviçal de Desmontt e bebeu o conteúdo até o último gole, o sangue do mesmo.
Ele pegou a taça entre os dedos e bebeu o sangue de Ravel com um sorriso nos lábios.
No mesmo instante os olhos de Levi se abriram de volta para a vida.
¥ Notas ¥
Desculpem pela demora, espero que tenham gostado, dois capítulos dessa vez. Um bônus pela demora do capítulo. A partir de agora postarei um capítulo por semana devido à falta de tempo.
Estou muito grato que já tenha chegado à seiscentas visualizações e mais de duzentos votos sem eu divulgar ela como divulgo Walking for Silence
Bom é isso, ahh gostaria de acrescentar que estou muito feliz que tenham me acompanhado até aqui
Votem e comentem, amo quando vejo a notificação de que o fizeram.
Deleitem-se com esse mundo que criei, até a próxima
VOCÊ ESTÁ LENDO
Erin, A Chave Dos Mundos
AventuraErin, tinha uma vida comum, era apenas uma garota vivendo em um dos muitos mundos que existem, até que, por uma brincadeira do destino, ela encontrou algo que mudou sua vida e afetou todos os mundos, agora o reino dos dragões está ameaçado por um am...