Capítulo 40: Vivendo em Paz

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Erin foi acordada por uma dor intensa e aguda nas costas, acima da paleta e próximo ao ombro.

O local estava queimando como se encostassem uma brasa quente em sua pele sensível. A agonia era tanta que Erin acordou pressionando a área e gritando.

Ela se contorcia na cama, a dor a consumia e era a única coisa que existia, até diminuir de intensidade.

Só então percebeu que uma senhora estava sentada na beirada de sua cama, ela fazia uma compressa fria em Erin para abaixar sua temperatura corporal, mas não tinha muito sucesso.

Ela a ajudou a se levantar e a guiou até o banheiro. Ele era grande e branco, azulejado com desenhos florais em uma parede, fazia tanto tempo que não entrava em um banheiro como o de seu mundo que ela se sentia em casa novamente.

Nem na casa dos Draien havia uma banheira ou espelho, artigos que deviam possuir com urgência.

A senhora encheu a banheira e despejou sais de banho na água, então saiu para dar privacidade a Erin. Só quando foi se despir que percebeu que não estava usando suas roupas sujas e sim um pijama com desenhos de unicórnio e isso a jogou em um dejavu de quando tudo ainda era normal.

Ela entrou na água e estava fria, talvez estivesse mesmo, talvez fosse a febre.

Erin olhou para o espelho preso à parede, olhou o ombro esquerdo que havia doído tanto e agora latejava, havia uma marca preta na forma de um pássaro, era tão perfeito o desenho que parecia uma tatuagem. A pele em volta do desenho estava vermelha e sensível.

Já sabendo a causa da dor encarou  a garota no espelho, ela estava tão diferente, parecia mais séria, o sorriso convencido não estava presente em seu rosto, ela já não afinava tanto  a voz e seus cabelos estavam maltratados, sujos e sem vida, se fosse antes ela jamais deixaria ficar assim, estava surtando, mas agora não era tão importante.

Tudo parecia tão fútil.

A garota se sentia em casa novamente e se sentia bem com isso, mas tinha a impressão que estava traindo todos os mundos e todos que habitam neles. O mundo perfeito em que foi criada pertencia aquela garotinha mimada que fora um dia, mas agora ela estava diferente, mesmo com tropeços e quedas estava aprendendo a andar com as próprias pernas.

Erin praticamente podia ver Eme andando na beirada da banheira assim como no primeiro banho que tomaram juntos e ela começou a chorar, precisava disso, lavar seu corpo e a alma antes de ir cumprir seu papel nesse mundo.

Erin mergulhou todo o corpo na água e prendeu a respiração.

Ela sentia que havia algo diferente nela, sentia uma magia profunda correndo em suas veias. Sabia que agora a passagem para o mundo entre a vida e a morte estava aberta para ela integralmente, jamais se fecharia. antes era como se houvesse uma parede e com esforço ela podia abrir uma porta e depois ela se fechava, mas agora a parede havia caído.

Era tão estranho estar em seu corpo agora, desde que acordara sentia-se outra pessoa, parecia estar ligada à cada ser vivo do cosmos, sabia quantos mundos existiam e como eles eram, mesmo sem ter estado em um milésimo deles, a vida de cada um parecia pulsar em seu corpo e todos os corações baterem juntos.

E como Liberten disse, parte dela tinha conhecimento de cada morte e todos eles vinham até ela como se precisassem de sua permissão para partirem. Todos chegavam envoltos em uma lama negra, despejavam seus sonhos não realizados e sentimentos mundanos, despiam-se de suas pendências em vida e um a um ela os guiava por esse mundo intermediário até onde eles seguiriam por suas próprias pernas, voltariam a viver sob uma nova forma.

Todos tinham esse direito, mas alguns ficavam presos no mundo intermediário até encontrarem sozinhos seu caminho, pessoas que ainda deviam viver suas vidas, que morreram na hora errada e eram tantos, Levi estava entre eles e Ahri.

Erin, A Chave Dos MundosWhere stories live. Discover now