Capítulo 46: Afogamento

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Erin e Kaliel dormiram na floresta naquele dia. Kaliel apenas disse que parariam para descansar e a garota achou que parariam realmente só para descansar e depois continuariam até um abrigo, mesmo já sendo muito tarde.

Erin percebeu que não havia abrigo quando Kaliel deitou confortável no chão da floresta, Erin não acreditava como ele podia não se incomodar com o mato, os insetos e os gravetos embaixo de si, mesmo havendo um manto de folhas marrons e amarelas misturadas com pétalas de muitos tipos de flores e cores, parecia uma mistura de estações, tinha o mais belo do fim da primavera e o mais charmoso da última semana do outono, ambos no mesmo dia.

Era tão belo que Erin podia ignorar a umidade da floresta e dormir, era um lugar melhor que a cela que Traso a prendeu.

A garota circundou o corpo robusto de Kaliel e encontrou uma enorme árvore de tronco grosso e liso, não entendia muito de botânica, mas sabia que árvores grossas são ásperas. Suas raízes saiam do tronco muito antes dele tocar o solo e serpenteavam a volta dela, Erin escolheu um lugar e sentou entre duas raízes que cabia seu corpo com perfeição.

Ela olhou para Kaliel que estava imóvel desde que deitara, ela era uma mulher muito bonita e sem expressar raiva e antipatia parecia inocente. Kaliel tinha traços faciais muito precisos, cílios longos, pele sem marcas, queixo definido, sombrancelha fina e volumosa, lábios carnudos, mas pálidos e cabelos pretos e compridos, muito liso. Erin lembrava ter lido em uma revista de moda que lábios como o dela indicava altruísmo, inocência e um dom para ser mãe, características que contradizia completamente ela.

Os traços faciais de Kaliel podia lhe dar uma aparência de boneca ou de uma mulher fria e rígida, dependia apenas da expressão que usava.

Erin imaginava não ser possível, contudo o aconchego a levou ao sono e sonhou que estava vivendo a vida de outras pessoas, em muitos lugares e muitas épocas.

Quando acordou no dia seguinte sabia que essa não tinha sido a primeira noite que esses sonhos chegaram até ela, mas foi a única que lembrava e um nome estava na ponta de sua língua, Destine.

Erin olhou para onde Kaliel havia deitado na noite anterior e ela não estava ali, a grama estava amassada e a fogueira que fizera para aquecer a noite estava apagada, havia terra sobre as brasas, então havia sido intencional. A garota levantou e seu corpo estalou por passar tanto tempo na mesmo posição, bateu a roupa, e reparou que sua legging estava rasgada na altura do coxa, mesmo tendo amadurecido ainda era uma garota e definitivamente não estava vestida para andar na floresta.

Erin decidiu ficar ali e esperar, Kaliel logo apareceria e elas continuariam a viagem, mas isso não aconteceu, a garota esperou pelo que pareceu duas horas e se irritou de ser deixada ali sem mais nem menos.

Andou seguindo os rastros que ela havia deixando, andando com passos rígidos e bufando. Ela poderia encontrar Kaliel como encontrou seus pais caso se ficasse perdida.

Logo ela ouviu o som de água correndo, era baixo, mas nítido e ela seguiu o som. Deveria ter olhado para os lados com atenção, talvez se prestasse atenção à sua volta teria ouvido o som de alguns gravetos se quebrando e teria ficado mais alerta.

Uma neblina sinistra cobria o chão da floresta, o ar denso dançava em torno de Erin, era bonito e misterioso, a cegava do que estava à espreita como se fosse uma venda tampando seus olhos de forma gentil.

Ela chamava por Kaliel vez ou outra, mas se perguntava se deveria, Kaliel estivera à serviço de Desmontt, era a última acólita e Erin sabia disso, vira Traso e Easi fazerem a passagem para o mundo dos mortos e ela o servira cegamente por mil. Agora estava livre e Kaliel havia desaparecido, talvez devesse apenas fugir, tentar encontrar uma fenda para algum mundo e abrir uma passagem. Era o mais sensato, contudo uma parte dela queria acreditar em Kaliel. Isso poderia matá-la.

Erin, A Chave Dos MundosWhere stories live. Discover now