Capítulo 38: Liberdade

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Dias, horas, minutos, o que são isso? Se não formas de tentarmos controlar a passagem do tempo... e falhamos miseravelmente. O tempo não nos importa, mas a ausência dele nos castiga e o excesso nos enlouquece.

Foi isso que Ravel aprendeu enquanto estava sozinha em alguma cela daquele castelo. Desmontt não precisava dela bem, limpa ou alimentada, precisava dela viva. Mehnir era um de seus trunfos e caso Ravel fosse morta seu plano seria mais complicado e longo, talvez até mesmo impossível, não sabia se poderia substituí-lo.

Estando presa, não tinha nada mais para fazer que não viajar em sua mente, sabia que poderia enlouquecer, mas descobriu uma maneira de manter sua sanidade e não era difícil, a solidão a fazia mergulhar em lembranças, trechos apagados de sua história, linhas que haviam sido riscadas e reescritas, decisões que havia tomado. Sentia muita saudade de casa e das pessoas que amava, sentia falta do rio luminoso e estar à companhia da pessoa que mais a entendia.

Havia decidido ficar contra a decisão de seu pai sobre Llyer, tentara convencê-lo que tinha outro jeito de resolver o problema, ela conhecia a personalidade do irmão e através da morte da mãe sabia o preço de não fazer nada, mas mesmo assim não interveio realmente para ajudar Levi. Não tinha como saber o que aconteceria, mas a recente atitude de Levi era um sinal óbvio do que iria acontecer.

Erin havia tido a Levi que podia ressucitar Llyer, o convenceu de lutar pelo que acreditava, deu a ele algo em que acreditar e Ravel acreditou que isso seria o suficiente para apaziguar o irmão, ao menos por aquela noite e foi dormir em paz, mesmo sabendo que na manhã seguinte parte do coração de Levi seria arrancado de seu peito pelas pessoas que juraram protegê-lo.

Se fosse Mehnir... Ahh se fosse Mehnir ela poderia fazer algo diferente? Se fosse Jade Ahri teria aceitado? Se fosse Saphir, a segunda geração de dragão de seu pai, ele teria o entregado aos sarcedotes para ser morto? Ravel duvidava muito se eles seriam capazes.

Então por Levi tinha que ter sido?

Ela culpou Erin por que precisava culpar alguém para esquecer sua falha, falhara em proteger ele na floresta do medo, em fazer ele aceitar a perda de Llyer racionalmente e acima de tudo falhara tentando trazer ele de volta a vida a partir de Desmontt e seus métodos repudiosos.

Ela aprendeu a odiar todos para não se sentir culpada, odiava a floresta do medo, a iniciação, as malditas aranhas infernais, Desmontt, o mundo em que vivia, sua casa e também o pai, o irmão e Erin, mas eles ao menos haviam tentado ajudar Levi fazendo o que achavam ser melhor para ele e ela? Não fizera nada.

Talvez fosse uma punição por ter sido tão injusta com Erin ou por ter traído seus valores e se juntado a Desmontt.

Culpar e odiar era tudo que podia fazer e era estranho, agora havia uma terceira opção que nunca havia se mostrado... Aceitar.

Talvez fosse por estar presa, talvez fosse o tempo que passou, talvez foi perder Mehnir ou então podia ter sido vê seu irmão agindo como uma boneca sem alma, na verdade não importava o motivo, pela primeira vez achava que estava tudo bem na morte, aceitar como tudo aconteceu e que talvez não devesse tentar mudar.

Ravel Estava presa e não sabia há quanto tempo, só sabia que não tinha fome e nem sede, não se incomodava em estar suja. A cela fedia e havia cadáveres putrefados nas outras celas, o que restou da antiga casa que construíra aquela cidade.

O local também era muito úmido, as paredes de pedra pareciam de uma caverna e escorria água por elas, mas não estavam mofadas ou com infiltração.

Ela ignorava até mesmo estar sentada na lama negra que cobria o chão, a lama subia por suas pernas, cobria as panturrilhas e contornava suas coxas, os braços não eram excessão e estes haviam sujado sua bochecha, uma linha preta até a orelha que ela não se dera ao trabalho de limpar na roupa.

Erin, A Chave Dos MundosOnde histórias criam vida. Descubra agora