Erin, A Chave Dos Mundos

Capítulo 29 Queda

Erin

Aquela noite Erin não dormiu e depois do que passara não sabia se seria capaz de dormir novamente. Quando fechava os olhos lembrava a sensação de estar queimando, a terrível sensação que precede a morte ao perceber que estamos condenados à um último momento de dor.

Erin jamais esqueceria essa sensação e o único responsável por isso era Desmontt. Se não fosse por ele, mesmo Erin tendo estado entre o mundo dos vivos e dos mortos duas vezes, ela só conheceria isso na velhice, instantes antes de morrer, mas Desmontt antecipou isso como parte de seu jogo bizarro.

Ele tinha de ser parado à qualquer custo, Desmontt era como um câncer, se alastrando pelo tecido celular, enraizando-se profundamente e se tornando à cada dia mais difícil de ser removido, aumentando cada vez mais as sequelas de sua presença.

E Erin podia ver sinais dessas sequelas ao olhar pela janela do quarto em que estava, o fogo ainda consumia as construções que um dia fora uma linda cidade. Erin pensou em escalar a parede de pedra vulcânica até o chão, mas o medo a desmotivava, era alto e íngreme demais para ela conseguir e se isso não bastasse, magra e pequena como era, ela não conseguia içar o próprio corpo. Por ter as mordomias de uma família de posses, a vida fácil que tivera não a preparara para situações como essa.

Um deslize e a morte a encontraria 60 metros abaixo, a morte iria embalar seu corpo frágil e carregá-la nos braços de modo terno. Erin conhecia o perigo, mas valia o risco para se livrar de Desmontt.

A descida começou fácil, as irregularidades da parede permitiam que ela se segurasse sem grandes dificuldade e ofereciam apoio sólido para seus pés, no entanto não demorou à começar as dificuldades, sem condicionamento físico seus braços cansaram rapidamente e parecendo mais pesados à cada segundo dificultavam exponencialmente o movimento, seu corpo começou a suar devido ao esforço incomum para um corpo acostumado ao luxo, segurar-se nas pedras estava se tornando impossível e ela não havia descido dez metros.

Erin parou mais uma vez para respirar, seu corpo estava dependendo de oxigênio de modo desenfreado. Aos quinze metros seus pulmões queimavam imploravam por mais oxigênio e seus dedos por descanso.

Então foi descoberta, Levi surgiu na janela que ela havia iniciado a escalada. Ele gritou seu nome com um misto de preocupação com o bem estar dela e com a missão que tinha de manter a Erin pressioneira como um carcereiro, permitir sua fuga iria irritar Desmontt.

O susto de ser descoberta fez Erin perder o apoio de uma perna e a outra se soltou com o peso que recaiu sobre ela. Apenas seus braços firmes em um vão a mantinham livre da queda similar à um prédio de quinze andares.

Naquele momento não havia mais medo ou cansaço e nem dor, havia apenas a necessidade desesperada de viver. Ela só podia agarrar-se aos amores que a fazia lutar pela vida.

Seus pés exaustivamente encontrava a rocha em busca de apoio e deslizavam por não encontrar, vez ou outra esfolando o peito do pé e os dedos, manchando as pedras de sangue, seus dedos da mão não conseguindo sustentar o corpo escorregavam lentamente do vão em que segurava, a irregularidade nos blocos de pedra formavam pontas que ao encontrar os dedos de Erin cortavam a carne como facas afiadas, tornando cada segundo daquele momento excruciante.

Até que Erin não aguentou mais e suas mãos se soltaram. Seu coração disparou no peito e calou-se, uma última imagem do que perderia percorreu sua mente e ela despencou. A queda de cinco segundos não durou nem mesmo um e ela não se chocou contra o chão no térreo do palácio.

Erin ficou todo o tempo com os olhos fechados como se ela estivesse mais vulnerável se visse a queda. Não viu quando perdeu o impacto da queda e nem quando caiu sobre algo macio sendo amortecida. Erin manteve os olhos fechados até que percebesse que não estava mais em perigo e quando abriu os olhos se viu sobre as costas de Mehnir, ele havia a salvado, Ravel havia a salvado.