Capítulo 14 Não dessa vez

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Erin


Ravel derrubou mais um inimigo acertando uma flecha em seu olho e virou procurando por outro inimigo, porém o que viu foi seu irmão sendo golpeado e morto ao salvar a Erin. A culpa era dela, se não tivesse concordado em levar aquela garota mimada para a guerra seu irmão não teria que salvá-la, não teria que se ferir. Não iria morrer.

Ravel guiou seu dragão para mais perto de seu irmão e desceu de suas costas. Mehnir sentia o medo e a preocupação que emanava dela, para ele, esses sentimentos novos eram confusos e ele não os entendia, não conhecia o amor, apenas a força e por isso era estranho sentir algo tão avassalador dentro de si.

Quando Ravel chegou ao irmão, ele estava caído nos braços de Erin que estava em choque, completamente imóvel. Os olhos de Ahri estavam abertos, mas ele não olhava para mais nada e seus pulmões não se enchiam mais de vida. A morte chegara rápido demais para ele, não houvera o mínimo tempo de socorrê-lo.

- Você pode ajudar ele Erin. - disse Eme, o dragão de Erin.

Ela não via ou ouvia nada, apenas conseguia encarar a morte nos olhos inertes de Ahri. Era tão estranho a morte, há tão pouco tempo ele estava vivo, sorrindo e zombando de sua baixa estatura, agora estava morto, esfriando aos poucos, cada célula morrendo uma à uma por falta de oxigenação. Logo não restaria mais nada, exceto memórias de quem o amava.

- Você pode salvá-lo. - repetiu Eme, agora mais determinada, mais audível. Erin olhou para seu dragão, do que ela estava falando? Ahri estava morto.

- Ninguém pode salvar ele agora, ninguém... - sua voz foi minguando conforme ela falava, a última palavra não soou mais que um sussurro.

- Você pode, eu disse por que eu posso, mas não sem você. Eu te guiarei no inframundo e te darei forças, mas você terá que andar pelas próprias pernas.

Eme tinha tanta convicção no que dizia que Erin não conseguia duvidar e uma chama de esperança se acendia lentamente em seu peito.

- Certo, eu faço qualquer coisa. - disse ela decidida. Ravel não dava atenção à eles, apenas conseguia chorar a morte tão precosse do irmão.

- Não tenha medo. - disse Eme e então cuspiu fogo em Erin, a chama era azul e a rodeava sem a ferir. Era gelada ao toque e quando à engoliu por completo Erin perdeu a consciência.

Quando acordou, Erin estava em pé em um imenso salão, o chão era muito liso e lustroso, assim como o teto que o refletia, e embora tinha teto, não havia paredes em nenhuma direção, o local se estendia infinitamente para todos os lados e havia um rio de água vermelha e espessa que corria ao lado dela.

Havia uma luz nos quatro pontos cardeais e em um deles ela viu Ahri, ele estava em pé muitos metros de distância dela. Ele analisava o mundo à sua volta muito confuso, e então voltou à margear o rio.

Erin deu um passo em direção à ele e então algo se ergueu do chão, se formando como uma bola de sobra negra, uma sombra que assumia cada vez mais a firma humana. Ela e estendeu o braço recém formado em direção à Ahri, seu braço se desfazia em líquido e pingava no chão só para escorrer de volta à massa negra.

Erin gritou com todas as forças de seus pulmões tentando alertar Ahri do perigo, mas de sua garganta não saiu som algum, nada fazia barulho, seus gritos, seus passos e nem mesmo a correnteza do rio vermelho.

Vendo que isso não faria efeito Erin correu tentando alcançá-lo, ela não sabia o por que ou como sabia disso, mas tinha que parar ele.

Antes mesmo de chegar perto dele, Ahri estava rodeado por esses mesmos seres. Todos idênticos, completamente negros como a própria escuridão, sem forma definida, que ficava se desmanchando e se refazendo e os olhos e a boca aberta brilhavam como se tivesse um sol em seu crânio.

Eles disputavam entre si a aproximação de Ahri e o guiavam para o pontinho de luz que havia no mais distante que sua vista alcançava.

Erin sabia que tinha se apressar, ela não tinha muito tempo e quando ele se esgotasse Ahri tinha que estar com ela ou ele estaria perdido.

Ela estava com presa, mas sua pernas pesavam como chumbo e fazia cada passo seu ser exaustivo e difícil, quase impossível. Se fosse sua determinação ela já teria se jogado no chão e ficado ali, estática em posição fetal. Mas seus passos lentos foram impedidos, correntes surgiram do chão e se enlaçaram nela, acorrentando-a ao chão.

Então ela viu um garoto segurando uma arma em suas mãos, a imagem era meia fantasmagórica e falhava piscando e assumindo às vezes e então o garoto disparou, morrendo rapidamente, ele se suicidara.

Mas o garoto não era o único, logo aquele mundo estava cheio de milhares de pessoas morrendo, se suicidando ou sendo mortos.

- Ahri... Ahri... Ela repetia vencida, ainda sem conseguir fazer som algum.

Ela não queria que Ahri ficasse preso naquele lugar, não podia permitir isso.

- Ahri! - gritou puxando as correntes com força e quando Ahri ouviu seu grito virou-se por sobre o ombro para ela e suas correntes se arrebentaram. Ahri se desvencilhou dos seres que tornaram-se violentos ao serem contrariados. Eles tentavam puxar Ahri e ser por entre os dois ameaçando Erin pela aproximação.

Ele levantou-se livre das correntes e do peso no corpo e correu ao encontro dele. Só então percebeu que ainda segurava a espada, ela a empunhou adequadamente e cortou todos que se punham em seu caminho.

- Pequena, você venho até aqui por mim? - perguntou ele com um sorriso nos lábios, um sorriso que poucas vezes se via em Ahri, que era muito fechado e sério.

- É claro. - disse ela embalada. Pela primeira vez não estava incomodada com o apelido. - Vem, vamos sair daqui. - disse ela pegando na mão de Ahri, mas quando eles se tocaram Erin acordou de seu estranho sonho.

Ela estava caída ao lado de Ahri e ele respirava, ele tinha os olhos abertos e estava vivo, muito ferido, mas vivo.

- Obrigado Erin... - sussurrou ele.

E quando ele falou Ravel abriu os olhos incrédula e viu Ahri desperto. Os olhos dela estavam cheios de lágrimas e estas se transformaram em lágrimas de felicidade, misturando-se à risos.

Ela abraçou Ahri que gemeu de dor com o gesto brusco e repentino.

- Obrigado Erin, não sei o que você fez, mas obrigado. - Ravel era muito sensitiva e percebida com uma facilidade incomum o uso de magia.

Quando eles voltaram para a casa do poder, cedida ao líder da cidade, a família de Ravel, havia um banquete e uma festa para comemorar a vitória do dia.

Erin, A Chave Dos MundosWhere stories live. Discover now