Capítulo 53: Memórias Embebidas

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Erin saiu da fenda que criara, estava centenas de quilômetros de distância um segundo antes e agora estava ali, novamente na saída da cidade. Ela virou-se para a fenda que continuaria a crescer até se estabilizar e tornar-se uma passagem fixa como a fenda onde era o fosso do esquecimento em seu mundo.

Erin tocou a fenda como Kaliel a ensinou e que lhe deu trabalho para fazer, tateou o ar até sentir a sensível película que rompera em sua viagem, identificou onde estavam as bordas da janela que abrira, as aproximou como dois tecidos rasgados antes de os costurar e proferiu a primeira palavra mágica que Kaliel a ensinou.

- Coniunctas. - uma primeira tentativa não funcionou, Kaliel disse que não bastava dizer a palavra, tinha uma entornação e pronuncia correta, além de ter que acreditar no resultado, então a magia faria o resto.

Ela praticara muito, mas ainda não conseguia de primeira e nem na segunda, contudo a terceira mostrou resultado e a fenda se fechou, ela largou a película clara e quase transparente e ela sumiu de sua vista.

Olhando à sua frente, através da fenda que não existia mais Erin viu uma casa antiga em meio ao mato crescido, era feita de pedras cortadas de forma regular e rústica, o teto de finos blocos de argila estava quebrado e pelo menos um cômodo ainda em pé estava descoberto, metade da casa estava em bom estado, mas a outra parte havia desabado e restava apenas pedaços de vigas e parades pela metade.

Erin se aproximou da casa que um dia fora imponente e agora era uma sombra do passado, tentou a porta da frente, mas ela estava bloqueada por algo do outro lado, então deu a volta até onde devia ter sido a cozinha, passou pelo arco de uma porta que não existia mais. O mato avançava pelo piso, tirando azulejos ou crescendo entre eles

A porta da cozinha para a sala de jantar também não existia assim como os móveis. O cômodo tinha muitos buracos nas paredes e no teto então a luz da tarde conseguia entrar e clarear ali, mas não no cômodo seguinte ou o corredor além dele.

Erin subiu uma escada antiga que ela tinha medo de desabar com seu peso, contudo parecia firme e resistiu sem problemas.

O chão do corredor no piso superior estava cheio de garrafas vazias e havia ainda mais no cômodo adjacente.

Kaliel estava deitada em meio à cobertores, estava em uma posição que parecia desconfortável e provavelmente renderia dores pelo corpo.

Ela acordou com a aproximação de Erin e reclamou de dor de cabeça, então empurrou a garrafa que segurava para longe de si, que tombou derramando o líquido que a preenchia pela metade, fazendo todo o quarto feder à álcool, o odor era forte mostrando possuir um elevado teor alcoólico e não lembrava Erin de nenhuma bebida que conhecia, talvez fosse feita de alguma fruta ou grão que não existia em seu mundo.

- Pensei que havia me abandonado... - disse Kaliel demonstrando falso ressentimento que só não parecia autentico pela entornação debochada.

- Pensei que iria me ajudar a derrotar Desmontt, não encher a cara até cair como uma alcoólatra. - rebateu no mesmo tom, estava passando muito tempo com Kaliel e tomando para si alguns aspectos de sua personalidade nada agradável. Somos uma esponja e absorvemos para nós mesmos parte de cada pessoa ao nosso redor.

- Você é doida garota? Tinha se livrado de mim, por que voltou? - Ela não estava bêbada, havia estado em todos os dias anteriores, mas não estava agora, havia bebido na tentativa de tirar a ressaca da noite passada e se bebesse mais um pouco conseguiria.

- Você é a minha melhor chance de derrotar Desmontt.

- Ninguém derrota Desmontt!

- Ele fracassou uma vez...

Erin, A Chave Dos MundosWhere stories live. Discover now