2. As Avessas

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POV REGINA

Segundo James Truslow Adams, em 1931, o tal sonho americano deveria ser uma vida melhor, mais rica e mais completa para todos, com oportunidades iguais baseado em suas habilidades ou conquistas, independente de sua classe social ou circunstâncias do nascimento. Pura hipocrisia. Para ser alguém com valor neste país você precisa nascer em solo americano. Estrangeiros por aqui são tratados como escravos e subir alguns degraus pode ser uma tarefa utópica. Porém, para tudo se acha uma solução, exceto para a morte. Não é isso que dizem?! Pois bem, a minha solução foi me casar com alguém daqui. Um americano. No início parecia loucura, mas a sorte estava ao meu favor e, felizmente, acabei me apaixonando e sendo correspondida. O restante foi pura consequência.

Com trabalho duro e dedicação cheguei muito além do que poderia imaginar. Dirigir o setor financeiro da revista de moda mais famosa do país era algo inimaginável na minha cabeça. Mas tudo isso veio com um preço igualmente alto. Aquele que jurou amor e fidelidade mudou drasticamente quando notou o quanto meu crescimento o incomodava.

Após seis meses de união, fui convidada pela Vogue a prestar assessoria contábil. Tendo meu trabalho reconhecido, a empresa me admitiu como contadora e rapidamente cheguei ao cargo de gerente de contabilidade e, seguidamente, a direção financeira da empresa. Obviamente nada veio com facilidade. Trabalho duro, suor, noites de sono perdidas e sem hora pra nada mais. Minha vida se tornou, em sua maior parte, viver para a Vogue.

Cerca de dois anos após nosso casamento, Robin começou a apresentar alguns comportamentos atípicos como; chegar tarde e, às vezes, só no outro dia. A princípio não dei muita importância para aquilo, afinal quem era eu para cobrar alguma coisa dele diante das minhas ações, enfim, a rotina e o desinteresse tomaram conta da nossa vida e mal nos falávamos. A situação não era nada agradável, mas parecia ser cômoda para ambos os lados; eu manteria minha vida em Los Angeles e ele desfrutaria da boa vida que tinha casado comigo.

Um tempo depois descobri que os tais sumiços eram, na verdade, por causa de uma amante. Fiquei revoltada na época. Robin e eu éramos mais colegas morando debaixo do mesmo teto do que um casal normal, porém, isso não lhe dava o direito de me trair. Pensei em confrontá-lo, mas desisti da ideia assim que soube da possibilidade de perder tudo aquilo que havia construído, então preferi fechar os olhos. Eu continuaria minha seguindo sem esperar muito do futuro.

- Chegamos senhora Mills. Disse Charles assim que o carro parou em seu destino habitual: Vogue. Recolhi minha bolsa e, assim que ele abriu a porta, saí.

- Preciso que esteja aqui às 15h. Vamos buscar minha mãe no aeroporto.

- Sim, senhora. Mais alguma coisa? Perguntou

- Leve este carro para higienização. Falei bufando. - Ainda estou sentindo o cheiro de perfume barato impregnado no estofado.

- Sim, senhora.

- E mais uma vez, você não está autorizado a levar Robin em lugar algum. Você é meu motorista e este é meu carro, não um bordel.

- Me desculpa senhora Regina, o senhor Loskey me ligou dizendo que não tinha condições de dirigir porque tinha bebido além da conta...

- E então você teve a brilhante ideia de pegar o MEU carro e ir buscá-lo?!

- Eu não tive a intenção de aborrecê-la... Eu sinto muito. Nunca mais vai acontecer.

- Tá! Tá! Tá! Sinalizei para que ele parasse de falar. - Que seja mesmo a última vez. Agora, por favor, quando eu entrar neste carro novamente, espero não sentir qualquer vestígio desse cheiro.

É inevitável te amarWhere stories live. Discover now