Capítulo 1: A fugitiva

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EVA

- Vim do futuro só pra te dizer que, um dia, a gente vai se casar e ter lindos filhos juntos.

Meu coração saltou no peito. Eu quis recolher a mão e sair correndo. Ao mesmo tempo, quase me engasguei com a saliva, dividida entre o choque e o divertimento. O rapaz esguio e esquisito não largava a minha mão desde que fomos apresentados, há uns dois minutos. Agora, sua proximidade me fazia querer recuar, ainda mais por causa do perfume ridículo que ele usava, cujo aroma impregnava tudo, e suas palavras doces, como se não tivesse me dito a coisa mais idiota do mundo.

Júlia, minha amiga, começou a rir. O gesto fez Manoel se distrair por um segundo e soltar a minha mão.

- Que cantada mais cafona, cara! Se toca, ela não tá interessada.

- Se toca você, Júlia. Por favor, não interrompa. Você devia tá tirando foto pra registrar o momento em que eu e minha esposa nos conhecemos. Como vamos contar a história pras crianças?

- Que crianças?! - Júlia parecia divertida e, ao mesmo tempo, indignada.

- Ora, os filhos que eu e ela vamos ter.

- Eu acho que você tá chapado, porque não é possível. Ela não quer nada com você.

Manoel cruzou os braços.

- E por que não deixa ela me dizer isso?

Júlia me encarou.

- Amiga, fala pra ele.

Arregalei os olhos ligeiramente, me dando conta de que esse tempo todo não falei uma palavra. Deixei a conversa se desenrolar como se eu não estivesse ali ou fosse apenas uma telespectadora. Por que eu sempre fazia isso?

Abri a boca e olhei para Manoel. Ele esperava uma resposta, de sobrancelha erguida. Minha mente ficou nublada, não sabia o que falar.

- Eu... - Vamos lá, Eva. Formule uma frase. É só formular. Você está estudando Jornalismo, isso não deveria ser tão difícil! - Não!

Ai, meu Deus. Por que eu disse isso? Não o quê? Sentindo o rosto esquentar ao ver as expressões deles se transformarem em um ponto de interrogação, virei as costas e andei o mais rápido que podia para longe da confraternização do meu curso, passando por outros alunos e professores.

Quando cheguei no meio da praça de alimentação da faculdade, parei de andar tão rápido. Caminhei até uma mesa vazia perto de uma das lanchonetes e me sentei, a boca seca e o peito se movendo rapidamente, por causa da minha respiração ofegante. O aroma de queijo derretido e frango alcançou minhas narinas, enquanto ouvia o burburinho cada vez mais distante de outros alunos. Deduzi que o intervalo acabou faz pouco tempo e ambos voltavam para suas salas.

Peguei o celular e mandei uma mensagem para meu pai, pedindo que viesse me buscar. A festa já acabou para mim. Eu não deveria nem ter vindo. Quem precisava de festinhas de despedida de semestre? Nos veríamos em agosto! Não devia ter ouvido Júlia, que queria muito vir. Com um pouco de sorte, nunca mais veria Manoel. Afinal, ele não era da minha turma, não sei porque estava na festa. De onde surgiu? Eu conversava animadamente com Júlia sobre as férias quando o rapaz brotou na nossa frente, impedindo minha amiga de terminar sua fala.

Meus olhos voaram para o relógio de parede no centro da praça de alimentação. Era um pouco mais de 21h. Eu nunca saía da faculdade nesse horário. Meu pai acharia estranho uma festa acabar tão cedo. Mas eu explicaria tudo depois.

- Ai, até que enfim te achei! - uma Júlia ofegante exclamou, pouco antes de se jogar na cadeira à minha frente. - Por que você saiu correndo daquele jeito? Não precisava. Pensei que tivesse ido embora.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now