Capítulo 38: As impressões

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MANOEL

As coisas estavam fugindo do controle. Meu plano permanecia o mesmo, esperar Eva terminar a faculdade para respeitar sua decisão. Só que faltava mais de um ano. As coisas entre nós avançavam de uma forma avassaladora, como um tsunami que invade uma cidade e derruba prédios. Precisávamos fazer alguma coisa a respeito, porém ela preferia me submeter a um algum tipo de tortura mental e não admitia seus sentimentos. Estava assustada. Será que Eva não percebia que estava nos prejudicando? O pior de tudo era que eu mesmo já comecei a sair do controle. Estive a um mísero passo de puxar a garota e lhe dar um beijo. Se vovó Ofélia não tivesse chegado na cozinha, é o que eu teria feito. Estávamos sentados em bancos de rodinhas, não seria tão difícil puxá-la para mim, só precisava de um movimento.

Senhor, me perdoa...

Uma pontada de culpa me tomou assim que vovó Ofélia apareceu na cozinha e eu me dei conta do que estava prestes a fazer. Sequer consegui ficar lá, depois disso. Eu nem conheço os pais da Eva ainda para saber se aprovariam nossa relação.

A gente não podia ficar sozinho. Qual o problema com meus pais? Por que saíram da cozinha sem falar nada? Queriam nos dar privacidade? Não era a forma correta de agirem ou eles confiavam demais em mim para acreditar que eu não faria nada estando sozinho com a garota que eu gostava.

Jesus, me ajude com um novo plano, porque não quero pecar, mas também não tô disposto a ser torturado. Me recuso.

Aquele abraço também foi o estopim, a cereja do bolo. Não estava esperando, pelo contrário. Achei que já tinha recuperado meu autocontrole e resolvi ficar um pouco mais afastado de Eva, evitar momentos a sós. Tinha um plano perfeito de lhe dar feliz natal de longe mesmo. Sabia que todos estavam se abraçando, mas eu não podia fazer isso com ela. Era arriscado demais, justamente porque eu sabia que não seria um abraço normal. Porém, não imaginei que ela fosse dar esse passo. Me pegou tão desprevenido que quase não tive reação. Eu quis implorar para a garota acabar logo com a tortura e me libertar.

Assim que cheguei em casa, me joguei no sofá. O local estava uma bagunça e a maioria dos convidados já foi embora, exceto por alguns tios e amigos meus. Escorei a cabeça no sofá e encarei o teto. Ah, se Eva soubesse de todos os planos incríveis que eu tinha para nós. Se me deixasse mostrar que eu não era um obstáculo em sua vida...

Mas estava de mãos atadas. Precisava conhecer os pais dela. Talvez, se eles gostassem de mim, Eva se sentisse mais confiante comigo e abriria o jogo. É, acho que o segredo para que a garota nunca mais fugisse era esse. O cerne de toda a questão era os pais dela. Talvez, eles fossem o seu calcanhar de Aquiles ou a kriptonita do Superman. Não era a vovó Ofélia, porque a senhora era muito fácil de agradar e ela já gostava de mim antes mesmo de saber quem eu era.

Que ótimo. Agora, ficaria ansioso para que chegasse logo o ano novo.

— E aí, tá no mundo da lua? — disse Karen, pegando uma almofada e sentando ao meu lado.

Amanda deu a volta e sentou do outro lado. Agora, me sentia encurralado, de alguma forma.

Ergui a cabeça do sofá e olhei de uma para a outra.

— E ai, gente? — Mantive o tom de voz casual de sempre. — Estão aproveitando a festa? Comeram bastante?

— Vamos direto ao ponto — disse Karen. — O que tá rolando entre você e a Eva?

Dei risada. É só o que me faltava.

— Por que a pergunta? Eu não posso ter outras amizades que vocês já pensam nessas coisas?

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora