Capítulo 54: O consolo

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MANOEL

Ofélia, o que faz aqui? perguntei, ao voltar da minha hora de almoço e encontrar a senhora parada na frente da loja de sapatos do shopping. Não esperava vê-la novamente tão cedo, ainda mais porque Eva não estava falando direito comigo e eu não sabia o que esperar. 

Vim pra conversarmos um pouco sobre Eva e o natal. Sei que vocês não estão se falando muito agora e só quero entender o que aconteceu. Você tem um tempo?

Ela se sentou no banco à frente da loja e eu me sentei ao seu lado. Ainda tinha alguns minutos disponíveis.

— A Eva te contou alguma coisa? — perguntei.

Disse que tá ocupada com a escola, mas não acredito muito. Você devia passar o endereço da sua casa pra ela depois, antes que o natal chegue, viu? Já tô pensando na roupa que vou usar.

Eu ri.

Ah, Ofélia. Eu nem sei se ela ainda quer ir. A gente tava se dando tão bem. E agora eu só fico pensando no que fiz de errado. Desculpa, mas pensei em retirar o convite que fiz a vocês. Tô começando a pensar que eu incomodo Eva. — Cocei a cabeça. — As coisas estão tão complicadas. Tô achando que é melhor deixar ela em paz.

Ela deu um tapinha no meu joelho.

Se fizer isso, será um perdedor, meu filho. Não desiste da minha netinha. Ela se faz de durona, às vezes, mas tem o coração mole. Puxou o pai dela, só não sabe disso e nunca vai admitir. Ou você vai me negar que sente alguma coisa por ela?

Eu ri, me sentindo sem graça.

Como a senhora sabe?

Não é difícil perceber. Observei vocês juntos, formam um casal bonito. E vocês me lembram muito minha juventude. Antes de me casar, eu e meu esposo éramos unha e carne, melhores amigos. Sabíamos tudo um do outro.

— O que aconteceu com ele?

— Faleceu quando meu filho era criança ainda. Geraldo tinha uns oito anos e era muito apegado ao pai. Ele acha que não, mas a morte do meu esposo afetou totalmente a personalidade dele. Geraldo era uma criança alegre e cheia de vida. Quando o pai dele se foi, parece que levou a alma dele junto. E até hoje meu filho é durão, sabe? Teria sido lindo se ele tivesse crescido sem toda amargura que tem.

— Eu sinto muito. E a senhora nunca se casou de novo?

— Não. Eu nunca consegui amar outra pessoa, sabe? Alberto levou para o túmulo o que tínhamos. Mas não me importo com isso. Sou feliz com minha netinha. E também sou feliz por ter conhecido um rapaz tão amável como você.

Eu ri, envergonhado.

— Que nada, senhora. Sou um cara como todos os outros.

— É nada. Quanta modéstia! Ainda por cima é humilde. Mas enfim... eu vim pra dizer que você faz bem à minha netinha. E valorizo isso. Então, por favor. Não desista dela.

— A senhora acha que tenho chance? Às vezes, Eva me confunde.

— Isso é normal. Mas acredito que é questão de tempo até ela se apaixonar por você. Se é que já não está, não é mesmo? — Ela riu e ficou de pé, apertando sua bolsa no ombro. — A propósito, você nunca me falou o que achou do meu bolo de fubá cremoso, hein? Só desconversou...

Também fiquei de pé.

— Vou confessar uma coisa pra senhora. Ele tá no top dez das minhas comidas favoritas.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now