Capítulo 42: As senhoras

23 8 0
                                    

MANOEL

Meu pai se recostou no sofá e deu um sorriso sincero quando lhe contei, dias depois, como foi minha virada de ano na casa de Eva. Ele parecia tão orgulhoso de mim quanto no dia da minha formatura do ensino médio. Convenhamos, ninguém esperava que eu me formasse. Acho que esse foi um dos maiores plots twists da minha vida, junto com o fato de eu ter passado no vestibular.

— Então, as coisas estão caminhando bem — concluiu ele. 

Me recostei no sofá também e ergui o queixo, quase sorrindo e encarei a TV. Jogávamos um dos nossos jogos de corrida favoritos no videogame. Era nosso programa dos finais de semana, quando nenhum de nós estava trabalhando e meu pai dava um tempo do futebol com os amigos.  Enquanto isso, minha mãe estava trabalhando e Gabi decidiu ir com ela, porque depois ambas iam ao shopping comprar algumas coisas para o enxoval da bebê mais tarde.

Meu pai estava perdendo de lavada no jogo. 

— O senhor nem faz ideia do quanto — respondi, desviando de uma árvore. 

Algo mudou entre Eva e eu desde que conhecemos a família um do outro no fim do ano. Eu sentia isso. Em pouco tempo nos tornamos mais próximos ainda, ela não hesitava em me mandar mensagem e nunca recusava minhas ligações ou chamadas de vídeo, coisas que eu sabia que ela odiava. 

Eva me disse que eu encantei a todos da sua família e que, especialmente, seu pai não parava de perguntar sobre mim e queria saber quando eu iria visitá-los de novo. Ela não demonstrou irritação quando soube das coisas que falei para sua mãe. Por um momento, achei que Vera me odiaria até o fim daquela noite. Mas quando nos despedimos, pude jurar ver um leve sorriso em seu rosto. Eva me contou que talvez sua mãe tenha gostado de mim porque agi de modo superprotetor com ela. Já percebi que os pais de Eva admiravam quem tentasse proteger a garota. 

— Estou me sentindo tão confiante, pai. A Eva gosta muito de mim, tenho certeza. Só não sei se ela sabe disso ou se admitiu pra alguém, mas a vovó Ofélia deve saber.

— É engraçado a forma como você fala da avó dela, Manoel.

Fiz uma careta.

— Por quê? Nunca fui muito próximo dos meus avós. Considero a Ofélia minha avó e ela é tão legal. 

— Nem me fale. Naquele dia, no natal, os convidados saíram daqui estufados de tanto comer. E boa parte da culpa é dela. Ela tem um dom incrível na cozinha, filho. Até hoje sua mãe diz que sente o gosto da comida dela na boca.

Eu ri, enquanto meu carro de corrida avançava na frente de outros dois carros, quase empurrando um deles para fora da pista. 

— Ah, mas a mãe é muito exagerada! Talvez. Porque Ofélia cozinha bem pra caramba mesmo. O bolo de fubá dela é o melhor que já comi até hoje. Nunca vou esquecer.  

— Melhor não contar isso pra sua mãe, ela vai ficar com ciúmes.

Abri um sorriso. 

— Combinado. 

Seu carro bateu em uma mureta, fazendo com que explodisse. Uma mensagem na tela da TV indicava que ele perdeu a corrida. Meu pai bufou e comentou algo sobre estar enferrujado no videogame. Algo que eu duvidava muito. Ele só não era muito bom mesmo. 

Enquanto eu ria dele, meu celular vibrou no bolso. Eu o segurei e sorri ao ligar a tela. Havia uma mensagem de Eva. 

Eva: Bom dia, Sr. Manual! KKKK 
Eva: Então, você tá ocupado hj? 

Tive que resistir à tentação de responder: para você, nunca estou ocupado

Eu: A gnt precisa MTO discutir sobre esse apelido, querida. Mas não, não tô ocupado. Pq?
Eva: A vovó vai fazer um almoço aq hj e convidou umas amigas da igreja. Ela me pediu pra te chamar tbm, pq segundo ela, só vai ter velho aq hj e não quer q eu me sinta sozinha, desculpa kkk 

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now