Capítulo 20: A cúmplice

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MANOEL

Domingo de manhã meu pai me puxou da cama logo cedo para correr numa pista perto de casa, que terminava dentro de um parque de outro bairro.

Ele botou na cabeça que estava engordando e precisava fazer exercício físico. Como um bom filho, lhe dei meu apoio. No entanto, no meio da corrida, fiz corpo mole, cansava muito rápido e não estava com tanto pique como ele. Em vários momentos eu parava porque parecia que minhas pernas estavam se quebrando.

— Pega leve, pai. Eu já sou magro, vou acabar sumindo — resmunguei quando paramos na entrada do parque e ele acabou com uma garrafa de água em um só gole.

O suor pingava de todas as partes do meu corpo. Parecia que estava encharcado pela chuva. E olha que nem estava chovendo!

— Mas já cansou?

Respondi com um sorriso irônico. Hoje era um daqueles dias em que eu conseguia algum tempo com meu pai. Não nos falamos direito desde o dia em que lhe pedi conselhos sobre Eva. Ele ficaria chocado quando soubesse da minha evolução em apenas uma semana.

Por isso, eu não ligava muito de correr alguns quilômetros com ele antes de me arrumar para trabalhar. Precisávamos ter mais uma de nossas conversas de homem para homem.

— Quer sentar em algum lugar pra respirar no parque? — ele perguntou.

Eu balancei a cabeça. Quando nos sentamos em um banco, todo meu corpo agradeceu. Foi a minha vez de beber minha água num gole só. No entanto, estava com tanto calor que joguei o finalzinho na cabeça e tirei o cabelo úmido do rosto.

Algumas garotas passaram por nós na pista e sorriram para mim. Fiquei sem reação.

— Eu não entendo o que essas garotas vêem em mim, pai. Eu não me acho tão bonito, sinceramente.

Ele riu.

— Você não deve tá se olhando no espelho direito então. Sabia que eu era igual a você quando mais novo? Se você ver minhas fotos antigas vai notar a semelhança. Eu até usava o cabelo partido no meio assim também.

— Ah, eu uso assim porque tenho preguiça de ficar arrumando.

— Na minha época era moda.

Suspirei e cocei a nuca.

— Ô pai, eu queria falar um pouco sobre a Eva.

Senti o rosto esquentando. Depois da última conversa que tive com ele sobre a garota deveria me sentir mais aliviado, mas sempre tinha essa tensão no ar.

Ele sorriu.

— A garota que você gosta? E aí? Como vão as coisas?

— Segui seu conselho. Fui eu mesmo o tempo todo com ela.

— E funcionou?

— Mais ou menos. A gente tá engatinhando ainda. Tipo, no começo ela ficou bem fechada e desconfiada de mim, mas nada que umas boas piadas não resolvessem depois.

— Ótimo. Bom garoto. Alguns conquistam a pessoa pelo estômago. A gente conquista pela risada mesmo.

— Você fez isso com a mãe?

— Claro. Mas também, eu sou um homem divertido, filhão. Você herdou isso de mim. Somos muito parecidos.

— Haha, quem me dera ter um terço da sua personalidade.

— Mas você tem! Só que herdou as inseguranças da sua mãe, isso é um problema. Não conta pra ela que te falei isso, hein?

Eu ri.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora