Capítulo 32: O jogo

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MANOEL

Alguns dias se passaram e eu me dei conta de que Eva e eu tínhamos assuntos para uma vida inteira. No começo, era eu que mandava mensagem primeiro, puxando algum assunto aleatório. Às vezes, mandava fotos dos livros que precisava ler pra faculdade e imagens que indicavam que eu estava estudando no momento. Depois de um tempo, já não sabia mais quem iniciava os assuntos. Nunca mais liguei para ela, pois a garota deixou bem claro sua aversão a ligações. Porém, às vezes trocávamos mensagens de áudio e eu sorria feito um retardado ao ouvir sua voz. Ainda bem que ela não podia me ver nessas horas. Meu rosto denunciaria meus sentimentos e ainda não era o momento de me declarar.

Comecei uma nova técnica de estudo que se baseava em contar para Eva tudo o que estava aprendendo na faculdade. Dizem que quando você tenta ensinar para alguém o que aprendeu, fica mais fácil memorizar as informações. Por outro lado, ela resolveu fazer a mesma coisa comigo. A essa altura, eu já sabia tanta coisa sobre jornalismo que faria uma prova facilmente e ainda tiraria nota alta.

Na faculdade, só nos víamos nas quintas-feiras porque tínhamos a disciplina optativa em comum. Nos outros dias, estávamos sempre ocupados com as aulas do nosso curso e com o desenvolvimento dos projetos. Enquanto ela fazia as reuniões com o grupo  dela, eu me reunía com meus colegas também. Os momentos que mais interagimos era por mensagem, quando chegávamos da faculdade.

Durante as aulas de paleontologia, comecei a fazer amigos na sala e tentei enturmar Eva também. Algumas pessoas perguntavam se a gente estava namorando. Ela ficava super constrangida e eu sempre negava e tentava desconversar. O professor agendou a visita à exposição de dinossauros para a primeira semana de outubro. Troquei de folga com um colega só para ir.

No dia do evento, já havia convencido Gabi a ir comigo e lhe contei sobre Eva durante o trajeto até a estação de trem que o professor combinou de encontrar o pessoal. Desde que descobrimos sua gravidez, eu estava tentando ser mais próximo dela e incentivá-la a não abandonar os estudos e a igreja. Por enquanto, estava conseguindo. Só temia pelos próximos meses, quando ficaria impossível esconder a barriga. Por incrível que pareça, de todas as pessoas da minha casa, eu era quem ela mais respeitava e obedecia.

— Espero que ela seja bonita, viu? Não esperei a vida inteira pra ver meu irmão caindo de amores por uma garota e ela ser feia — disse minha irmã, sentada em um dos bancos do trem.

— Ei, eu não tô caindo de amores.

— Não? Ah, pelo amor de Deus. Olha o jeito como você fala dessa garota. Só falta beijar o chão que ela pisa.

Suspirei.

— E eu espero que a senhorita se comporte com Eva, tá? Nada de abrir essa boca. Não fale e nem insinue que eu tô afim dela. Não quero estragar as coisas.

Ela sorriu de um jeito provocativo.

— Por que não tasca logo um beijo nela, Manoel? Todo mundo sabe que não é difícil uma menina ficar afim de você. Tenho certeza que essa Eva também deve tá afim.

Ah, se as coisas fossem tão simples...

— Gabi, eu acho que às vezes você esquece que a gente é cristão. Não posso chegar beijando a menina. Ela vai fugir e nunca mais olhar na minha cara. Tem que ir aos poucos, sacou? E quando ela menos esperar vai estar tão atraída pelo meu charme que não vai desejar ir a lugar algum. E quando esse dia chegar, aí sim vou abrir o jogo e a gente vai começar a namorar.

Ela ergueu uma sobrancelha.

— Não sei de onde você tira tanta confiança, mano. Só espero que não quebre a cara depois.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now