Capítulo 10: A amiga

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MANOEL

Júlia apertou o botão de desligar o rádio e olhou para minha cara assim que viramos a esquina da casa da avó de Eva.

- O que foi? Eu tava curtindo a música! - resmunguei. Tinha acabado de começar Deixa o tempo, da Fresno. Uma das minhas músicas favoritas da banda, por sinal.

- Desembucha, garoto.

- Como assim?

- Você tava aí assobiando a melodia dessa música e tá muito quieto. Quero que você me conte como descobriu que Eva e eu íamos ver um filme hoje e naquele horário.

Eu ri. Poxa vida, ninguém acreditava mesmo que foi coincidência!

- Mano, eu não sabia! É sério. Fiquei tão chocado quanto ela. Não sabia o que fazer com minha cara, na hora. Parece que meu cérebro entrou em curto circuito, sei lá.

- Espera mesmo que eu acredite nisso?

- É. Eu trabalho naquele shopping, Júlia. Olha, deixa eu te contar uma coisa. Eu trabalho numa loja de sapatos e tenho desconto no cinema de lá. Tenho folga aos domingos uma vez por mês. Toda vez que quero ver um filme, eu vou naquele cinema, por causa do desconto.

- Então, você não tem carteira de estudante?

- Sim, eu estudo Farmácia. Mas imagina que louco. Tenho o desconto do serviço mais o da carteira de estudante. O cinema fica praticamente de graça.

- Desde quando estuda Farmácia?

- Há dois anos e meio. Eu tô indo pro sexto semestre.

- E por que nunca te vi antes na faculdade?

- Ah, é que eu sou magro demais pra que alguém possa me ver - ironizei.

Ela riu.

- Tá vendo? Como você não quer ser zoado pelos outros? Você mesmo se zoa!

- Eu posso, né?

- Enfim... Você precisa esquecer a Eva.

- Esquecer? Eu nem fiz nada. Você viu, estava tentando me aproximar naturalmente, sendo eu mesmo.

- O problema é que você é naturalmente irritante. E ela desenvolveu certa aversão a você.

Apertei os lábios.

- Ela te falou alguma coisa?

- Não muito. Mas você deixa ela nervosa, desestabilizada.

Abri um sorriso.

- Isso é bom, né?

- Não, porque não é um nervosismo do tipo "meu Deus, eu tô muito afim desse cara". Tá mais pra "Esse cara tá me assustando, eu preciso fugir".

- Então eu não sei o que faço. Ela fica nervosa quando sou eu mesmo e quando não sou. Ferrou.

- Só esquece.

- Por quê? Esse nervosismo vai se converter em algo diferente, Júlia.

- Você não faz o tipo dela. Não tá de acordo com a list... - Ela bateu a mão na própria testa. - A Eva vai me estrangular.

- Agora que começou, desembucha. Qual o tipo dela? Diz aí.

- Por quê? Você não pode fingir que é o tipo dela, Manoel. Não é justo.

Eu bufei.

- Querida, quem falou em fingir? Se a gente estivesse numa dessas comédias românticas, eu fingiria ser o cara ideal, ela se apaixonaria por mim e no fim descobriria que se apaixonou por uma versão inventada minha. A gente brigaria e cada um iria pro seu canto. E isso é desonesto.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now