Capítulo 37: O natal - parte 4

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EVA

Ele não sabia desconversar como uma pessoa normal, não?

- Já provou essas uvas? - perguntei, numa nova tentativa.

Manoel suspirou, com ar divertido.

- Tá bom, senhorita. Se você prefere mudar de assunto, então sim. Eu já provei. É sua fruta favorita?

- Prefiro maçã. Daquelas bem vermelhas, mas também amo qualquer derivado.

Ele cruzou os braços e os apoiou na bancada, inclinando-se um pouco para mim.

- Vou anotar essa informação.

Ergui uma sobrancelha.

- E o que vai fazer com ela?

- Um dia, você vai saber. Mudando de assunto, estou muito feliz por você ter vindo. Achei que não viria.

- Ah, eu vim pela vovó. Ela estava tão animada...

- Então você não queria vir? Por quê?

Engoli mais uma uva. Ela desceu rasgando minha garganta.

- Por nada.

Seu semblante ficou bem sério de repente, nunca o vi assim.

- Eva, o que aconteceu no shopping? Te fiz alguma coisa?

Não, Manoel. Você não fez nada. Fui eu que fiz. Comigo mesma.

- Eu tinha muita coisa pra fazer... da faculdade. Por isso não conversei muito com você depois daquele dia.

- Por que eu tenho a sensação que você não tá me contando a verdade?

Suspirei. Precisava fugir dessa conversa antes que a noite de natal fosse arruinada. Estava tudo tão agradável.

- Não quero falar disso. Prefiro passar uma borracha no que aconteceu e seguir como se nada tivesse acontecido.

Estiquei a mão e peguei mais uma uva. Seus olhos escuros acompanharam meus movimentos. Ele esticou o braço e tomou a fruta de mim, colocando-a na própria boca. Meu queixo caiu, ele abriu um sorriso maroto, enquanto mastigava a uva. Nunca vi uma pessoa ficar tão bonita sorrindo de boca cheia.

Depois de engolir, ele me disse, sério:

- Ok, vamos combinar uma coisa.

- É. Devíamos combinar que você não pode ficar pegando as comidas das pessoas assim, porque em algum momento pode levar uma surra.

Ele riu.

- Não, isso não. Além do mais, senhorita, só pra você saber, não faço isso com todo mundo. Mas enfim, ia dizer que você não precisa mentir pra mim, sobre nada. Tipo, faz qualquer coisa, menos mentir, tá bom? Só diz que não quer falar. Eu vou respeitar.

- Tá bom, acho justo.

Ele estendeu a mão para mim, o semblante suavizando, os lábios se curvando em um sorriso de canto.

- Então, temos um acordo?

Segurei sua mão sem hesitar, mantendo o olhar fixo no seu. Esqueci totalmente do que ele fez quando nos conhecemos. Dessa vez, pensei que era um aperto de mãos normal e não uma armadilha, porque tinha quase certeza de que... éramos só amigos. Depois de tudo o que ouvi de Amanda e Karen...

Porém, o aperto se prolongou por tempo demais e seus olhos demoraram no meu rosto.

- Você não vai me soltar? - perguntei num fio de voz, lutando contra o formigamento que sentia na barriga e as batidas apressadas do meu coração.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now