Capítulo 48: A mudança

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MANOEL

Passei o domingo inteiro sem falar com a Eva. Me vi sem energia para muitas coisas, na verdade. Ela também não me mandou mensagem. Imaginei que quis me dar um tempo ou não queria me incomodar. Tentei me organizar mentalmente para contar que ia trancar a faculdade. Não tinha ideia da reação dela, mas já orava a Deus sobre isso.

Meu coração bateu de um jeito tão louco e descompassado quando minha mãe levantou a hipótese de nos mudarmos que, na mesma hora, tive certeza que era uma decisão ruim. Fiquei confuso com algumas coisas. Não entendia como ainda não era o momento de namorar com Eva e, ao mesmo tempo, eu não podia sair da cidade.

De qualquer forma, escolhi confiar em Deus. Ele sempre sabe o que faz.

Quando o relógio bateu cinco da tarde, eu e minha família nos arrumamos para ir ao culto. Porém, o clima não era dos mais agradáveis por lá. Muitos membros ainda julgavam minha irmã pela gravidez e sempre que atravessávamos as portas do templo, ela apertava minha mão forte, como uma criança assustada.

Que situação deprimente.

As coisas só ficaram piores quando algumas irmãs puxaram minha mãe para conversar depois do culto e ficaram perguntando sobre o meu pai. Eles nunca iam para a igreja sem o outro. Pela primeira vez, ele não estava lá. Minha mãe ficou tão sem resposta que eu tive que apressá-la para irmos embora, como uma forma de tirá-la da situação ruim.

Chegando em casa, Gabi revelou seu descontentamento sobre a igreja em si, a forma como seus "amigos" e pessoas do ministério de dança a excluíram de tudo, sequer a cumprimentavam. Minha mãe, por outro lado, disse estar preocupada em ficar indo na igreja sem meu pai. Uma hora, os irmãos desconfiariam de alguma coisa e saberiam a verdade. Mais um motivo pra ficarem julgando minha família.

Eu até conseguia imaginar o que os membros da igreja diriam:

Nossa, mas o Douglas não era crente? Não era ele que zelava pela família? Esses que se dizem santinhos são os piores! Eu sempre soube que ele não valia nada. Aquela carinha nunca me enganou!

— E se a gente for pra igreja da vovó Ofélia? — sugeri, com a mão na cintura.

— Não é longe daqui, meu filho?

Cocei a cabeça.

— Não sei, mas posso ver com Eva. Ela tá indo na igreja da avó faz um tempo e gosta muito de lá. Tudo é muito simples, mas as pessoas são gente boa. E vai ser bom mudarmos de igreja, porque lá ninguém nos conhece. Não vão ficar nos julgando.

Gabi ergueu uma sobrancelha.

— É só por isso que você quer mudar mesmo ou é pra ficar mais pertinho da Eva? — Abriu um sorriso provocativo, que preferi ignorar.

— Mãe, o que me diz?

— Não sei. Estou há tantos anos na mesma igreja...

— Eu sei. É a igreja em que eu cresci. Tenho amigos de infância lá. Mas não adianta ficarmos num lugar que mais condena do que ajuda. A gente precisa ir pra onde Deus vai tratar nossos corações, mãe. Sei que é difícil desapegar assim, mas não temos escolha.

Ela suspirou e levantou do sofá.

— Tá bom. Fala com a Eva sobre isso e depois me dê uma resposta. Se a igreja da Ofélia for muito longe, procuramos outra. — Rumou para as escadas, alegando estar cansada.

Em seguida, foi a vez de Gabi.

Ao ficar sozinho na sala, me joguei no sofá e mandei mensagem para Eva.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now