Capítulo 12: A gentileza

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MANOEL

Ao sair de casa, coloquei meus fones de ouvido e fui para o ponto de ônibus.

Quando cheguei no shopping, ajudei meus colegas a abrir a loja e fui colocar meu uniforme. Comecei o dia bem, tendo que organizar uma pilha de calçados novos numas preteleiras e etiquetar todos eles. Assim que acabei, fui para a porta da loja para receber os clientes e perguntar em que eu poderia ajudá-los. O público era o de sempre, variando entre mulheres idosas, jovens e crianças com seus pais. 

Estava quase na minha hora de almoço quando uma mulher com um carrinho de bebê e uma senhora um pouco rechonchuda de cabelos bem brancos e curtos apareceram na loja.

— Bom dia! Em que posso ajudá-las? — perguntei ao me aproximar e ver que elas observavam um calçado ortopédico em específico na vitrine.

A senhora se aproximou de mim e tocou meu braço.

— Escuta, meu filho. Você tem o número 36 daquela sandália ali? — Apontou com o dedo. — Mas tem que ser larga, porque se for apertada demais machuca meus pés.

Algo nela me fazia lembrar da minha avó paterna, não sabia porquê. Mas também podia imaginá-la facilmente em um programa de culinária na TV, igual a Palmirinha.

— Sim, pode deixar. Fica à vontade, eu vou procurar no estoque.

Quando retornei, a senhora estava sentada no banco no meio da loja, próprio para os clientes experimentarem seus calçados. Ela já estava com os pés descalços e a outra mulher segurava o bebê no colo ao seu lado, de pé.

Eu me agachei na frente da senhora com três caixas de sapato.

— Do modelo que a senhora pediu só tinha na cor preta. Mas eu trouxe outros modelos parecidos que a senhora pode gostar.

Ela assentiu.

— Você pode calçar as sandálias em mim? Já que vocês, jovens, tem uma coluna de ferro — disse, rindo.

Abri um sorriso fraco, enquanto tirava os calçados das caixas.

— Olha, não é bem assim não. Se não cuidarmos da nossa postura, até nós jovens podemos ter uma escoliose, bico de papagaio, hérnia de disco e outras coisas.

— E não é que é verdade? Eu vi no jornal outro dia que muitos jovens estão com problemas de coluna por ficarem muito tempo mexendo no celular — dizia ela, enquanto eu pegava a sandália que ela pediu. Quando olhei para seu pé, um inchaço no pé direito me chamou atenção.

— É comum seus pés incharem? — questionei.

— Meu pé tá inchado? Sabe que eu nem reparei? Deve ser por isso que ando sentindo umas dores nele, de vez em quando.

— Devia procurar um médico — aconselhei, mesmo sabendo que não era da minha conta.

Ela fez uma careta.

— Ah, já fui em tanto médico. Parece que a vida de velho é tá indo pro hospital — resmungou.

— Eu entendo, mas se a senhora não for ao médico, o inchaço pode piorar. Precisa saber se isso é por causa de alguma artrite ou problemas mais graves, como diabetes e problemas cardíacos.

— Você é médico, rapaz? O que tá fazendo trabalhando numa loja de sapatos?

Eu ri, enquanto desabotoava uma das sandálias e encaixava no outro pé dela.

— Eu sou estudante de Farmácia.

— Tá explicado.

Depois, ela encarou o próprio pé com a sandália e pediu minha ajuda para ficar de pé. Depois de ajudá-la, ela caminhou até o espelho de chão e encarou o pé.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now