Capítulo 46: O amor

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EVA

Desde que parei de negar para mim mesma que estava apaixonada por Manoel, não sabia mais como ficar perto dele. Quando ele apareceu na casa da vovó hoje mais cedo, meu coração só faltou sair pela boca. Eu me recriminei por tê-lo cumprimentado com um beijo no rosto. O que deu em mim? Estava ficando cada vez mais ousada, num sentido ruim.

Jesus, me ajuda.

Eu não agia por impulso assim e não era essa a relação que a gente tinha. Manoel continuava sendo legal, gentil e atencioso comigo. Do mesmo jeito que era com todo mundo. Porém, havia momentos em que nossa relação não parecia apenas amizade, como quando ele sugeriu que nossas famílias se conhecessem. Pela forma como falou, me deu uma impressão de intimidade tão grande que fiquei nervosa.

Quando percebi que ele estava demorando dentro de casa, saí para caminhar e tentar clarear os pensamentos. Será que eu devia ter insistido para entrar lá com ele? Confesso que fiquei morrendo de medo e, talvez, fosse atrapalhar os assuntos da família. Devia ter acontecido algo bem grave, a julgar pela expressão de Douglas. O clima não estava bom. O homem mal olhou nos meus olhos e sequer me cumprimentou. Nada de sorrisos.

Ele não estava nada amigável hoje. Era totalmente diferente da pessoa que conheci no natal. Ver a expressão de Manoel depois quase acabou comigo. Havia um misto de tantos sentimentos em seu rosto, mas os mais gritantes eram o medo e a confusão. O rapaz chegou a ficar mais branco do que já era. Nunca o vi assim antes.

Temia que o pior tivesse acontecido. E se fosse algo com Gabi e a bebê?

Ai, meu Deus...

Sequer entendi o que Douglas sussurrou no ouvido do filho antes de ir embora.

Suspirei, frustrada. Não sabia o que esperar quando visse Manoel de novo. Olhei para o céu assim que entrei na rua dele. Não havia uma nuvem sequer e as primeiras estrelas já brilhavam com toda intensidade. Então, olhei para a casa de Manoel e o vi.

Estava sentado no meio-fio da calçada, com as pernas encolhidas e o rosto enterrado nas mãos.

Algo está muito errado.

Apressei os passos em sua direção e notei seus ombros chacoalhando. Meu coração disparou e me joguei ao seu lado impensadamente.

Ouvi aquele som baixinho.

O som do seu coração se despedaçando.

Toquei seu braço.

— Manoel! O que foi?

Tentei puxar a mão de seu rosto, mas não consegui. Ele era mais forte que eu.

— Me deixa. — Ele nunca falou assim comigo antes. A voz bem grave, carregada de emoção, abafada e estremecida ao mesmo tempo.

— Não. Eu quero te ajudar, olha pra mim!

— Não, por favor, Eva. Pensei que tinha ido embora! Vai embora, não quero que me veja assim.

Afastei o cabelo de seu rosto e coloquei a mão em suas costas.

— Vou ficar aqui. Com você.

Ele tirou as mãos do rosto, lentamente. Estava irreconhecível. A vermelhidão dominava cada centímetro de seu rosto e se estendia até as orelhas.

Algumas lágrimas brilhavam enquanto caíam de seus olhos inchados.

— Pensei que tinha ido embora — tornou a dizer, com a voz sumindo aos poucos.

— Que tipo de pessoa você acha que eu sou? Não podia ir pra casa sabendo que as coisas estavam estranhas por aqui. — Passei a mão por seu cabelo de novo, sem conseguir me conter. Era a primeira vez que sentia a maciez de seus fios entre os dedos.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now