Capítulo 28: As mensagens

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EVA

Quanto mais estudava fotojornalismo, mais encantada eu ficava. Todas as outras aulas me deixavam de cabelo em pé e me faziam ter vontade de chorar. Todos os dias ansiava pela sexta-feira só porque sabia que teria fotojornalismo e a disciplina era um bálsamo para minha alma. Hoje, em especial, o professor nos passou uma atividade para fazermos ao longo da semana e eu já previa que seria uma delícia. Depois de aprendermos sobre a composição fotográfica, precisávamos tirar fotos que envolvesse as regras dos terços, cor, formas geométricas e pontos para postar no drive que o professor tinha feito para a turma. O melhor de tudo é que era individual.

Mal podia esperar.

Mais uma vez, saí da aula fascinada e esqueci por um segundo todos os meus problemas.

Quando cheguei em casa, guardei a mochila no quarto, fui para a cozinha e fiz um lanche rápido com alguns pães de forma, tomates, alface e pedaços de frango grelhado no azeite, que minha mãe deve ter feito pro jantar. Ela estava na sala, vendo seu programa religioso como sempre e meu pai subiu direto para o quarto.

Comi meu lanche em silêncio, na cozinha mesmo. Depois, fui para meu quarto, abri a mochila e peguei a caixa do presente que Manoel me deu. Depois de abri-la, fiquei admirada pelas luminárias em formato de folha de cerejeira. O tronco e galhos da árvore eram marrons, com um suporte pequeno na parte de baixo.

Coloquei o abajur sobre a mesa de cabeceira e apertei o botão. Ele se iluminou todo. Em seguida, apaguei a luz do quarto e o ambiente se tornou um rosinha fraco, mas dava para enxergar a sombra dos móveis. Uma onda de alívio me invadiu e a adrenalina correu solta nas minhas veias. Essa foi a única explicação que encontrei para o fato de eu ter pego o celular, tirado uma foto do objeto aceso e mandado para Manoel. 

Ele não respondeu de imediato, imaginei que ainda estava na faculdade. Então, peguei O olho da rua, livro da Eliane Brum, e comecei a ler, resistindo ao impulso de olhar o celular o tempo inteiro.

Passava um pouco das onze quando Manoel finalmente me respondeu.

Manoel: Aaaaaaaa, ficou lindo! 

Abri um sorriso involuntário. 

Eu: Sim! Obrigada, Manoel. De verdade. 
Manoel: Disponha ☺️
Eu: Mas ainda me sinto culpada porque você dormiu mal.
Manoel: Relaxa, Eva. Já te falei, foi culpa minha. 
Eu: Hum. Então… seu pai conversou com vocês? Já resolveram tudo?
Manoel:  Ah, sim. Qnd cheguei da facul, ele já tava na sala com minha mãe e a Gabi. Só estavam me esperando msm. Aí ele se desculpou com tds nós e disse q ia procurar terapia, pq reconheceu q essas atitudes dele tão super erradas, né? Aí minha mãe falou q vai até procurar psicólogo pra Gabi tbm. Ela tá bem mal por causa da gravidez. 

Tirei os olhos do celular por um momento, pensando no que falar. Meus pais diziam que crente não precisava de psicólogo, bastava usar a fé que os problemas sumiriam. Além do mais, eles achavam que fazer terapia era perda de tempo e que psicólogos eram mercenários, que enganavam as pessoas só para arrancar dinheiro delas. Minha mãe dizia sempre “Eu vou pagar alguém pra conversar? Se eu preciso conversar com alguém, é melhor falar com Deus. Pelo menos é de graça”. 

Nem preciso dizer a raiva que essas frases me davam. Sempre acreditei que Deus usava médicos e psicólogos para curar as pessoas também. Já vi tantos relatos na internet. Porém não podia comentar nada com meus pais. Eles tinham uma mentalidade muito fechada para entender. Achava um milagre não serem contra eu fazer faculdade também. Mas enfim…

Manoel: Evinha, vc ainda tá aí ???

O apelido me arrancou uma risada sincera. Coloquei a mão na boca ao notar que ria alto demais. 

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora