Capítulo 22: O almoço - parte 1

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EVA

Amiga, você precisa confiar em mim e me dizer que tá rolando entre você e Manoel - disse Júlia, depois que a aula do segundo período acabou e arrumavámos nossos materiais nas mochilas. - Eu fiquei te esperando igual uma tonta na praça de alimentação e você não me explicou o que aconteceu.

- Desculpa, Manoel tinha algo importante pra me dizer. E eu perdi a noção do horário. Você sabe como ele é, né? Um tagarela. - Eu ri um pouco, lembrando da nossa conversa na escada.

Não contei nada para Júlia sobre Thiago também, então ela estava bem desatualizada. E na verdade, eu ainda não superei a decepção. Claro que o que sentia por ele podia ser considerado uma paixonite boba de alguém que mal saiu da adolescência. No entanto, não deixava de ser uma desilusão. Sentia meu coração partido mesmo assim e isso me fez passar a noite em claro, reavaliando mentalmente o julgamento que eu fazia das pessoas.

Toda vez que eu reclamava dos meus pais, vovó os defendia e me fazia ver um lado deles que eu não enxergava. Eu julguei tanto Manoel e no fim, ele se provou um rapaz muito legal. E eu admirava tanto Thiago para, depois, ele mostrar que não era cristão de verdade.

O mundo desabava sob meus pés e nada do que eu via parecia real. Não era assustador? Quanto à Júlia, às vezes sentia pena dela. Ela parecia querer muito participar mais da minha vida e eu não deixava, colocava mil barreiras. Depois achava ruim que não tinha amigas.

Não era justo.

- Tá bom, eu vou te contar tudo.

Suspirando e com certa dificuldade, eu lhe contei a história toda enquanto passávamos pelo corredor. Resolvemos descer de escada, porque era mais vazio e teríamos mais tempo para conversar antes do meu pai aparecer. Em alguns momentos, Júlia parecia atônita e em outros, dava risada.

Uma ruga de preocupação se formou em sua testa quando lhe contei sobre minha descoberta em relação a Thiago. E me senti tão aliviada depois de contar essas coisas para ela que me perguntei porque nunca fiz isso antes.

- Caraca, Eva! Que barra - ela murmurou quando chegamos na praça de alimentação e nos sentamos numa das mesas. - Então, o Thiago tá fora, né?

- Ainda tô me recuperando da decepção. Acho que vai levar um tempo até eu esquecer essa história.

- Mas foi bom você descobrir o tipo de cara que ele é antes de se envolver com ele. Imagina se você tivesse feito amizade e desenvolvido sentimentos mais profundos... Seria muito pior.

- É, eu sei. Acho que foi livramento de Deus, sabia? De vez em quando eu orava sobre Thiago e pedia pra Deus me mostrar se ele era o cara ideal pra mim.

- Viu só? Isso é Deus cuidando de você.

Assenti.

- Bom, agora estou indo na igreja da minha avó. Gosto de lá, mas não tem culto de jovens. A igreja é bem pequena.

- Podia visitar a minha. Vai ter culto de jovens no próximo sábado. Eu te mando mais informações depois e se você quiser ir, me fala.

- Tá bom, obrigada. - Eu abracei a mochila no colo, sentindo uma onda de vento atravessar minha pele.

- E o Manoel, hein? Pelo que você me contou, vocês tão mesmo se aproximando. Cara, ele conheceu sua vó. Que loucura! E tô ainda mais surpresa porque não pensei que ele pudesse ser tão legal assim. Na escola era um idiota total. Mas também, nunca fui próxima dele pra saber, né?

- Pois é. Acho que a gente se enganou sobre ele. E tenho percebido nos últimos dias como é fácil se deixar levar por aparências e se enganar com as pessoas. Manoel sabe tanto de bíblia quanto a gente, até mais que eu. E ele tem uma maneira de pensar bem peculiar.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now