Capítulo 16: A paleontologia

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MANOEL

O-oi, Eva. — Ri um pouco, nervoso. Escorei o braço na mesa e derrubei de novo as canetas no chão.

Fechei os olhos por um segundo. Impressionante minha habilidade de fazer burrice. Não conseguia mesmo enganar o cérebro e fingir que não estava afim da garota. 

— Deixa que eu pego — ela disse, agachando-se.

Eu me agachei também e pegamos as canetas. Ela colocou algumas no meu estojo rasgado.

Eu quis jogá-lo no lixo e atear fogo nele.

— Ah, obrigado. Então, o que te traz aqui, senhorita? — Sorri, tentando voltar ao estado normal de ser humano.

— Os dinossauros.

— Mas eles não são grandes demais? Andaram quebrando prédios por aí, como o Godzilla?

Ela riu, os cílios perfeitos quase cobrindo os olhos. Garota charmosa.

— Não! Por favor, não seja palhaço.

— Não me pede algo impossível.

Eva pigarreou e voltou a ficar séria, como se tivesse lembrado de algo subitamente e tentasse manter o personagem anterior.

— Então, eu estava indecisa com as disciplinas. O que me ajudou a escolher foi que cheguei da faculdade ontem, liguei a televisão e estava passando Jurassic Park na TV. E eu lembrei o quanto amava esse filme, já o assisti tantas vezes que sei as falas de cór.

Então, a decisão não tinha nada a ver comigo. Pelo menos, ela não escolheu sentar do outro lado da sala. Dentre tantas opções, veio justamente para cá. Considerei isso um bom sinal. Será que Eva tinha consciência do que fazia? Ela sabia que sua atitude nos aproximava? Não podia ser tão ingênua...

— Entendi. Mas vai ser bom, né? Que bom que o horário da aula bateu com seu curso.

— É. E eu queria estudar alguma coisa diferente de jornalismo.

— Eu entendo. Também queria fugir um pouco do curso de farmácia. Não leve a mal, eu amo a profissão. Mas sei lá, às vezes fico saturado. Preciso de novidades. — Tamborilei os dedos na mesa.

Ela estava tão linda com aquela trança no cabelo e aquela blusa azul cobalto  realçando seu tom de pele que era muito difícil não ficar olhando. Por um momento, tive dúvida se seria inapropriado ou não elogiá-la. Isso a faria fugir? Ainda dava tempo de ela trocar de lugar, nem todos estavam ocupados. Não queria arriscar.

Escolhi o silêncio. Só o fato de saber que veria Eva às segundas e quintas até o fim do semestre já era o bastante para me fazer querer sorrir por horas, até sentir câimbras nos lábios.

Pouco depois, ela colocou um caderno e estojo impecáveis sobre a mesa e um professor rechonchudo e calvo entrou na sala. Os outros alunos pareciam conhecê-lo, mas por via das duvidas, ele escreveu seu nome na lousa.

Professor Gefferson.

— Por favor, me mata agora. — A voz meio sussurrada de Eva me fez encará-la e rir.

— Quê?

Ela olhou para mim e arregalou os olhos.

— Desculpa, eu não devia ter falado em voz alta.

— Que isso, Eva? Eu sou o rei das frases mais imbecis que você poderia ouvir. Então, por que disse isso?

— Ah, é que... olha o nome dele. É um crime substituir o J pelo G.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now