Capítulo 51: As notas

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EVA

Passava um pouco das onze quando mandei uma mensagem para Manoel lhe desejando feliz aniversário. Depois de toda a correria para o hospital, ele acabou voltando para casa e me dei conta de que sequer lhe dei os parabéns.

Que bela amiga, hein?

A verdade é que ainda estava atordoada com os últimos acontecimentos. Não tirava da cabeça aquela cantada ridícula que ele me falou hoje cedo. O que estava pensando? Ele queria me provocar, tenho certeza.

Quando cheguei do hospital, peguei meus cadernos para tentar fazer a atividade de Estatística e quase não consegui, por ficar pensando em Manoel. A paixão começou a me consumir e eu temia que esse dia chegasse. Na faculdade, já precisava fazer um grande esforço para prestar atenção nas aulas. Júlia comentou que eu estava diferente, com um visual mais alegre e até conversava mais. Quando perguntou o que eu fiz nas férias, não dei muitos detalhes. O mesmo receio de sempre me atingiu.

Agora, fiquei encarando o teto do meu quarto esperando Manoel responder minha mensagem, com os parabéns. Esperava que ele não estivesse chateado comigo.

Meu celular vibrou um tempo depois.

Manoel: Oi, querida. Obg por me desejar parabéns. E td bem, eu entendo. Foi mta correria hj, né?
Eu: Sim. Ah, eu ia te dar um presente, mas não sabia o que comprar.
Manoel: td bem, não tem problema.
Eu: Você tá bem?
Manoel: pq a pergunta?
Eu: parece cansado e triste.
Manoel: como sabe disso sem me ver? Kkkk
Eu: Conheço você
Manoel: hummmm
Eu: Mas não muda de assunto, o que foi? É alguma coisa com Gabi?
Manoel: Não, ela tá ótima. Não vejo a hr de vir pra casa com a bb.
Eu: Então, qual o problema?

Ele escreveu um textão contando que mandou mensagem para o pai e sequer recebeu um retorno. Douglas apenas visualizou a mensagem e ignorou. Isso me deixou tão irritada que eu quis socar alguma coisa ao meu redor. Poxa, Manoel sequer ganhou feliz aniversário dele. O rapaz ainda estava se recuperando do divórcio dos pais, mas abandonar os filhos é muita sacanagem.

Eu não entendia como uma pessoa podia ser tão cruel.

Depois de ler o texto dele, em vez de responder com outra mensagem, resolvi ligar. Manoel atendeu de imediato.

- Por que me ligou, meu bem? Você nunca liga. 

Queria ouvir sua voz.

- Ah, achei melhor pra conversar. Pensei que... talvez você precisasse falar em vez de escrever.

Ele deu uma risadinha.

- Você é uma péssima mentirosa. Lembra do que combinamos no natal? Nada de mentiras, Eva.

Suspirei.

- Tá bom.

- Então qual a resposta verdadeira?

- Queria ouvir sua voz - respondi baixinho, na esperança de que ele não ouvisse.

- Melhor. Viu? Não foi tão difícil.

Não foi tão difícil? Eu quis enterrar minha cara no travesseiro assim que confessei a verdade. 

Mude de assunto, rápido. 

Pigarreei. 

- Sinto muito pelo que aconteceu em relação ao seu pai. Queria poder te ajudar.

- Você já me ajuda muito. Talvez não tenha noção disso. Você é uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida.

Suas palavras fizeram cócegas na minha barriga e me deu vontade de chorar. Pela primeira vez, odiei estar na faculdade e tão longe de me formar. Se as circunstâncias fossem outras, é possível que eu já tivesse feito uma loucura, como me declarar para o Manoel.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now