Capítulo 34: O natal - parte 1

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EVA

Estava indo longe demais.

Só Deus sabia o tamanho da tristeza que me assolou durante o trajeto até minha casa. A exposição foi incrível. Surpreendi a mim mesma por prestar atenção em tudo e não deixar Manoel me distrair, apesar de estar o tempo todo nervosa e consciente da sua proximidade. Talvez, ele não fizesse ideia dos efeitos indesejados que causava em mim. Nada tirava da minha cabeça que ele era apenas uma tentação para desviar meu foco dos estudos e para dar dor de cabeça aos meus pais. Imagine se eu aparecesse com notas baixas. Passaria meses ouvindo eles reclamarem porque gastaram dinheiro comigo à toa.

Eu me sentia sem forças para lutar contra qualquer sentimento. Me deixava levar facilmente, ria com mais frequência, principalmente, na faculdade. Júlia já andava bem desconfiada que tinha algo acontecendo comigo, mas não lhe contei nada. Não conseguia tirar do pescoço o colar idiota que Manoel me deu. Costumava brincar com o pingente e pensar no rapaz quando não estávamos juntos. Jesus, no que me transformei?

Segurar a mão dele no metrô foi demais. Passei de todos os limites, foi a prova de que eu não conseguia mais conter qualquer impulso físico. Estava mais próxima do pecado do que imaginava. Quando as coisas estavam apenas no campo da conversa e troca de mensagens, ainda dava para manter tudo sob controle. Mas cruzei uma barreira. O que mais faria depois? Me jogaria nos braços dele e o encheria de beijos?

Não sou esse tipo de gente.

Agora eu tinha um caderno cheio de anotações que Manoel fez. Deus sabe que eu admiraria a letra dele por horas, se fosse possível, por mais que tudo não passasse de um garrancho e não desse para entender algumas palavras. 

Precisava cortar o mal pela raiz e começaria a partir de hoje. 

🍎

- Esse vestido está perfeito na senhora, vozinha! Mas ainda acho que vamos passar o natal na sua casa, porque Manoel deve ter esquecido que nos convidou pra ficar na casa dele - comentei, com a mão escorada no queixo, enquanto encarava minha avó na frente do espelho da loja de roupas. 

Dois meses se passaram desde o fatídico dia na exposição do dinossauro e eu afastei Manoel totalmente da minha vida. Fui salva pela faculdade e sua infinita enxurrada de trabalhos, que mal me davam tempo para respirar. A cada mensagem que Manoel mandava, eu arrumava uma desculpa para não conversarmos. Felizmente, nossos encontros na universidade também se tornaram escassos, exceto pelas aulas de paleontologia (e pelo trabalho em dupla que fizemos). Porém, no mês passado, ele faltou muito, porque começou a estagiar em sua área e estava difícil conciliar tudo. Não vou mentir, senti uma pontada de tristeza ao notar que ele também se ocupava com o próprio curso. Quando entrei de férias, depois de passar em todas as disciplinas com notas altas, minha relação com Manoel não era mais a mesma. Eu sabia que ele também estava de férias, mas nenhum de nós se esforçou mais para mandar mensagem um ao outro. 

Porém, com toda a correria da faculdade, esqueci do acordo que fiz com o rapaz. Mas a vovó acabou me lembrando nos últimos dias e eu fiz de tudo para fazê-la mudar de ideia. Quando ela enfiava uma coisa na cabeça, era difícil tirar. Isso nos levou ao exato momento em que estávamos: escolhendo uma roupa legal para ela passar o natal, na casa de Manoel.  

Ela deu de ombros e passou a mão pelo comprimento do vestido.

- Ah, não se preocupe, minha querida. Manoel vai mandar o endereço. Fui na loja de sapatos esses dias e conversei com ele.

Arregalei os olhos.

- E o que a senhora disse? Por que foi lá?

- Precisava trocar algumas palavrinhas com ele, mas não foi nada de mais. E eu perguntei sobre o natal. Ele disse que mandaria o endereço pra você.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Où les histoires vivent. Découvrez maintenant