Capítulo 53: O choque

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MANOEL

Boa tarde, em que posso ajudar? — a pergunta já era automática, de tantas vezes que eu a repetia. A mulher ao meu lado olhou para mim e, depois, para uma sandália de salto à sua frente, na vitrine.

— Tô só olhando, moço.

— Se precisar de alguma coisa, é só me chamar.

E eu lhe dei as costas com um sorriso.

Caminhei até o outro lado da loja e abordei uma garota que parecia ter a idade de Eva. Ela encarava um tênis branco.

— Boa tarde, em que posso ajudar?

Olhou para mim e sorriu.

— Não sei qual calçado eu pego. Tô em dúvida entre o tênis branco e a sapatilha preta.

— Por que não experimenta os dois?

— Ah. Então, moço, é que vim sozinha e tipo... eu precisava da opinião de alguém pra me dizer qual fica melhor. Não confio na minha opinião. — Ela deu uma risada e me olhou de um jeito estranho. — Você bem que poderia me ajudar, né?

Droga, conheço esse olhar.

Engoli em seco.

Olhei para o lado só a tempo de ver Caio passando e segurei seu braço.

— Meu amigo aqui também é vendedor, acho que ele poderá te ajudar melhor do que eu. — Ainda dei uma batidinha no peito dele antes de andar apressadamente para os fundos da loja e bater o ponto para fazer meu horário de almoço.

Bufei assim que saí da loja e me joguei numa cadeira na praça de alimentação, depois de ter comprado um lanche e uma lata de refrigerante. Poxa, quase todo dia aparecia uma garota nova dando em cima de mim. Estava cansado disso já. Mal via a hora de colocar um anel de compromisso no meu dedo para esfregar na cara de todas. Se bem que, como as coisas andavam hoje em dia, duvidava que isso resolvesse alguma coisa. 

Daniela, uma das novas vendedoras da loja, apareceu com sua bandeja e sentou na minha frente pouco depois. Ela me empurrou um pedaço de papel com um número e um nome: Vanessa.

— Não sei como você faz isso, Manoel. Mas é irritante — disse.

— O quê?

— Isso aí. Aquela cliente. Ela escreveu o telefone dela e me pediu pra te entregar.

— Ah.

Amassei o papel e o mirei numa lata de lixo, como se fosse uma bola de basquete.

— Mas dessa vez a menina até que era bonitinha, vai — disse Daniela.

Olhei para meu lanche e comecei a comer.

— Eu sei.

— Então, qual o problema? Trabalho na loja faz pouco tempo e todo mundo me fala da sua fama de "dispensador de gatinhas".

Fiz uma careta.

— Quê?

— O pessoal, nossos colegas. Aliás, você é um assunto bem frequente nas nossas reuniões no barzinho, toda sexta-feira. Eu não falo nada, mas os caras te deram o título de dispensador de gatinhas.

— Eu não sabia de nada disso.

— Pois é, eles vivem comentando sobre um fora que você deu na menina que trabalhou na loja antes de mim. Parece que todos queriam ficar com ela, aí depois disso tiveram ainda mais certeza que você é gay.

— As pessoas deviam fazer outra coisa em vez de perder tempo falando sobre mim.

Ela suspirou.

— Mas é verdade?

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora