Capítulo 9: O filme

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EVA

Quando sua boca fina se afastou do canudo, Manoel deu uma risada curta e fraca, ainda olhando para o copo.

- Você tá me deixando sem graça me encarando desse jeito.

Na mesma hora, arregalei os olhos e olhei para a frente. Senti o rosto esquentar. Como ele sabia? Nem estava me olhando de volta! Que ódio, eu odiava ser pega no flagra. Eu e essa mania de encarar as pessoas aleatoriamente...

Mas eu sempre desviava o olhar quando elas olhavam de volta. E ninguém nunca reclamou comigo. Na verdade, eu encarava as pessoas e começava a divagar.

- Ah, des-desculpa. Eu não sabia que... Como você...?

Ele riu e se inclinou um pouco para mim. Recuei disfarçadamente no assento.

- Visão periférica, querida.

- Ah.

Ótimo. Agora eu queria sumir. Sabia que um dia essa minha mania me faria passar a maior vergonha.

- Então, você sempre faz isso? - ele perguntou, ainda inclinado. Sentia seus olhos sobre mim, ainda que eu estivesse vidrada na tela do cinema.

- Isso o quê?

- Encarar as pessoas quando acha que não estão olhando?

Morta de vergonha, eu disse:

- Preciso ir ao banheiro.

- Agora? O filme já vai começar...

Fiquei de pé e o deixei falando. Quase tropecei nos degraus da sala escura na hora de descer. Precisava encontrar Júlia e dar um jeito de trocar de lugar com ela no cinema.

Por sorte, eu a encontrei no meio do caminho. Ela carregava duas pipocas médias, meu suco e um refrigerante.

- Eu sei, eu sei. Demorei demais. Mas ainda bem que você veio atrás de mim, acho que ia derrubar isso tudo nas escadas da sala.

- Podemos trocar de lugar?

Ela me encarou.

- Sim, mas por quê? E por que você tá com essa cara de quem viu um fantasma?

Soltei um suspiro.

- Você armou pra mim, Júlia?

- Do que você tá falando?

- Do Manoel. Ele tá aqui, ele sentou do meu lado e ficou tentando puxar assunto. Foi você que armou que ele viesse? Porque isso é estranho demais.

Júlia arregalou os olhos, depois riu.

- Menina, não acredito! Não tenho nada a ver com isso. Não sei o que é mais bizarro, ele sentar justo do seu lado ou ver um filme romântico. Não sabia que ele era esse tipo de cara. Eu vou zoar ele eternamente, pode apostar.

- É, mas por favor, troca de lugar comigo. Ele estava me deixando desconfortável. Ele é muito inconveniente, amiga.

Ela ergueu uma sobrancelha.

- E eu não sei? Mas não liga pra isso não. A gente troca de lugar sim. Vamos entrar?

Eu assenti. Quando entramos na sala, a tela exibia o trailer de outro filme e o ambiente ficou mais escuro ainda. Dei uma olhada de relance em Manoel e vi que ele comia sua pipoca tranquilamente, enquanto vidrava os olhos na tela. Depois, deixei Júlia passar na minha frente e ela sentou ao lado dele.

Com um suspiro, me permiti relaxar no assento, enquanto saboreava minha pipoca doce com uma garrafa de suco de morango. O filme já começou mostrando a cidade de Nova York e uma daquelas trilhas sonoras clássicas de romances, ao som de violão e uma voz feminina suave cantando sobre como o amor era lindo.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now