Capítulo 26: A compaixão

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MANOEL

É o quê?! Uma facada no peito doeria menos. Grávida? Então ela fez aquilo? Minha irmãzinha doce e inocente...

Olhei de um lado para o outro sem parar, tentando assimilar a informação.

— Não, mãe... Peraí. Não... não pode ser verdade — sussurrei, com uma rouquidão incomum na voz.

— Bom, ela passou mal há alguns dias. Eu a levei no médico, ela fez exame de sangue e hoje saiu o resultado. Abrimos juntas. Acho que ela nem pensou que poderia ser gravidez, acabamos chocadas com os resultados. Até cancelei com algumas clientes no salão e vim para casa mais cedo. Quando seu pai chegou do serviço, estávamos na sala, decidindo como contar a ele. Gabi me implorou pra não falar nada. Mas essas coisas não dá pra esconder por muito tempo, né? — Parou de falar quando um tremor atravessou seus lábios.

— Onde ela tá, mãe?

— Trancada no quarto. Seu pai brigou horrores com ela. Quase deu uma surra nela, disse para ela ir embora de casa, que não era mais filha dele. Ele até a chamou de vagabunda. E quando eu a defendi, me tornei o foco da ira dele. Então, tua irmã subiu correndo pro quarto. — Ela suspirou. — Teu pai disse tanta coisa pra mim. Coisa que aconteceu há vários anos e eu não fazia ideia.

Engoli em seco. O nó se formava em minha garganta.

— Quando conversei com meu pai, ele disse que estava bem.

— É óbvio que ele diria! Teu pai é um ótimo ator, Manoel.

Então eu me ergui do sofá e rumei para as escadas.

— Preciso falar com Gabi.

Bati na porta do quarto dela várias vezes, ignorando seus gritos de "Não quero ver ninguém!"

Devo ter passado cerca de meia hora ali. Até que ela destrancou a porta e abriu. Seus olhos estavam inchados e vermelhos e ela fungava.

— Veio me dar sermão também, irmão? — O tom debochado em sua voz me magoou. Mas eu sabia que ela estava sofrendo muito mais e só queria ferir alguém do mesmo jeito que foi ferida. Ela queria uma vítima. E estava enganada se achava que me usaria dessa forma.

Olhei para sua mão e notei que apertava a maçaneta da porta.

Como brigar não adiantava nada, fiz a primeira coisa que me ocorreu. Abri os braços e os fechei em torno de sua cabeça, em um abraço apertado. Ela ficou sem reação no primeiro momento, mas depois me abraçou com tanta força que os músculos das minhas costas doeram. Começou a tremer e soluçar muito forte. Seu mundo desmoronava diante dos meus olhos e eu não estava lá para impedir. Saber disso me magoava muito mais.

Ela chorou tanto que eu podia jurar que encharcou minha blusa.

Depois de um tempo, me sentei em sua cama e ela me contou a história toda. Gabi perdeu a virgindade há semanas e transou com vários caras diferentes. Ela não fazia ideia de quem era o pai do bebê. Era conhecida na escola por ficar com vários meninos e mesmo assim ser a menina mais inteligente da sala. Em alguns momentos, eu cerrei os punhos e trinquei os dentes. A ira me atingiu em cheio e eu precisei lembrar que não podia estourar e brigar com minha irmã. Ela poderia se fechar e nunca mais olhar na minha cara.

Meu peito queimava de vários sentimentos ruins misturados, porém o que mais sobressaía era a mágoa. Comigo mesmo e com meu pai. Ele foi o primeiro a dizer que estaria com a Gabi quando tudo desandasse. E eu costumava ser o primeiro a dizer que nunca a deixaria.

A garota estava tão assustada, sem saber o que fazer e como seus amigos reagiriam. Ela não queria nem dar as caras na escola ou na igreja. Eu até consegui acalmá-la um pouco. Disse que daríamos um jeito, que éramos um time. Ela acreditou nas minhas palavras.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now