Capítulo 62: O encontro - parte 1

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EVA

Talvez, para me deixar mais nervosa, Manoel passou o dia seguinte inteiro sem falar comigo. De novo. 

Qual o problema dele? 

Tentei agir naturalmente durante o dia. Minha mãe foi pra uma excursão de mulheres em sua igreja, mas meu pai estava em casa. Tentei sondá-lo para saber o que conversou com Manoel. Mas foi impossível. Ele só me disse que na hora certa, eu saberia. 

Que droga, pai!

Por incrível que pareça, o dia passou mais devagar. Tentei me distrair ao máximo. Passei boas horas lendo Orgulho e Preconceito, da Jane Austen. Depois, decidi pintar minhas unhas. Fiz hidratação no cabelo, assisti vários episódios de Dawson’s Creek. Por volta das 16h, fiz uma bagunça na cozinha. Meu pai via futebol na TV e eu fiz de tudo pra não usar liquidificador ou batedeira. Estava fazendo um bolo que vi na internet. Esperava que ficasse bom. 

Quando o bolo ficou pronto, ainda arrisquei uma calda de chocolate. Comi uns pedaços ainda quentes. Uma delícia.

Em algum momento, fui pra sala e sentei no braço do sofá, encarando a TV e balançando a perna. Meu pai ainda assistia ao futebol. 

— Eva, se continuar assim vai ter um infarto e não vai poder ir ao encontro, minha filha — disse ele, em tom de resmungo, como se realmente estivesse bravo. Mas agora que eu o conhecia melhor, sabia que não estava. Por dentro, aposto que se divertia com meu nervosismo. 

— Então quer dizer que agora eu posso? Do nada, tá permitido namorar o Manoel? O que mudou, pai? Era esse o comunicado que o senhor ia fazer? 

— Bom, conforme combinei com ele, não direi nada. Vou deixar Manoel ter essa conversa com você. 

Bufei, frustrada. 

Um pouco mais tarde, resolvi me arrumar pra sair. Experimentei várias peças de roupa e as descartei sobre a cama. Nada era bom o bastante. 

— Vá de vestido. 

A voz da minha mãe me fez olhar para a porta, onde estava parada. Talvez, tivesse percebido minha indecisão. 

— Não tenho nenhum vestido bom o bastante pra usar nessas ocasiões. — O que era verdade. Até mesmo porque não estava esperando o convite pra sair…

— Tenho um que está novinho. Só usei duas vezes, mas faz muito tempo e agora não me serve mais. Já volto. 

Ela se retirou, me deixando perplexa. Apareceu com um vestido azul escuro longo, de alcinha, semelhante ao que se usa numa formatura ou casamento, todo trabalhado em cetim e pedrinhas no busto. 

— Mãe, esse vestido é lindo! Mas acho que é exagero. Não tô indo pra uma festa de noivado. É elegante demais. 

Ela deu de ombros e estirou o vestido na cama, por cima das roupas bagunçadas. 

— Eu usei quando seu pai me pediu em namoro. Naquela época, tinha um corpo parecido com o seu. Por isso, acho que vai servir. 

Arregalei os olhos.

— Ainda guarda o vestido que usou quando foi pedida em namoro? Por quê?

— Recordação. Seu pai e eu temos umas caixas cheias de lembranças, de coisas que vivemos desde que a gente se apaixonou um pelo outro. É uma forma de lembrar das coisas boas. Eu jamais me desfaria desse vestido. 

Suas palavras me comoveram, mas engoli as lágrimas. A mulher que estava na minha frente não podia ser a mesma com quem convivi a vida inteira. Era a primeira vez que ela dizia algo que não fosse uma bronca. Isso me fez querer explorar ainda mais esse seu lado.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Donde viven las historias. Descúbrelo ahora