Capítulo 23: O almoço - parte 2

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EVA

Pronto. Vovó encheria meus ouvidos sobre Manoel quando ele fosse embora. Eu que me preparasse. Se bem que, admirava o gesto do rapaz. A alegria de vovó sempre seria a minha. 

Manoel assentiu e nos sentamos à mesa. Vovó também se encarregou de fazer um macarrão com molho bolonhesa. Ele colocou um pouco de cada coisa no prato e encheu um copo de refrigerante. 

— O cheiro da comida tá maravilhoso. Se a senhora fosse mais jovem, certamente pediria sua mão em casamento. 

Vovó riu. 

— Que isso, rapaz? E espero que goste do tempero. Comentei com minha neta que você tá magro demais. 

Ele riu e deu um gole no refrigerante. 

— A senhora devia ver umas fotos minhas mais jovem. Eu era um balãozinho. 

— E o que aconteceu?

— Vida adulta. Eu trabalho igual um doido e não tenho muito tempo. São só vinte minutos de almoço. Raramente consigo comer uma refeição completa. Aí, ainda como umas besteirinhas na faculdade. Às vezes chego em casa tão cansado que acabo não jantando. Na loja eu ando pra cima e pra baixo o dia inteiro. 

Eu também coloquei minha comida e um copo de suco, assim como vovó. 

— E por que não larga esse emprego? Seus pais não podem pagar o colégio pra você?

Manoel deu uma garfada na comida e a colocou na boca. Fechou os olhos brevemente, como se apreciasse o sabor.

— Meu Deus, isso aqui tá muito bom! Eu quero morar na sua casa! — Depois, ele limpou a boca com um guardanapo. — Então, a gente vive de aluguel. E todo o dinheiro que meus pais ganham é pra pagar as contas de casa, fora os gastos com saúde e as compras do mês. Eu tenho uma bolsa de estudos de 50%. Quando recebo o pagamento, separo uma parte pra facul, outra pra ajudar nos gastos de casa e outra pra eu comprar algo pra mim. 

— Ah, então você também ajuda em casa…

— Sim, porque também gasto energia, água e internet. Nada mais justo, né? 

Vovó assentiu. 

— Você deve ganhar bem na loja. 

— Ah sim. Eu ganho comissão. Me ajuda muito. 

Enquanto os dois conversavam, eu ouvia atentamente, sem participar da conversa. Não conseguia evitar minha surpresa e admiração pelas coisas que Manoel dizia. E o que me alegrava era ver a forma como ele tratava a vovó. Geralmente, as pessoas não tinham paciência pra conversar com idosos ou os tratavam mal. Na verdade, muita gente os enxergava como escória da sociedade. Era como se as pessoas perdessem o valor ao envelhecer. 

No entanto, ali estava Manoel, contando sobre sua vida para vovó, sem se deixar constranger ou ofender quando ela fazia algum comentário ou pergunta que pudesse ser intrusiva demais. Ao mesmo tempo, quando foi a vez dela de falar sobre si mesma, ele ouvia atentamente e interagia com perguntas, mostrando que realmente prestava atenção no que ela dizia. Ele não mostrou dispersão e nenhum sinal de que queria que ela calasse a boca. Vovó falava sobre seu passado, seus problemas de saúde, plantas curativas… E Manoel, com toda paciência do mundo, se encarregava de desmistificar algumas crenças bobas que vovó tinha sobre saúde e remédios. Por um momento, tive impressão de que vovó iria até o quarto pra pagar sua caixa de medicamentos e encher Manoel de perguntas.

Tal pensamento me fez rir por dentro. 

Vovó se compadeceu quando ele contou que era afastado dos avós e que sempre quis conviver com eles. E eles conversaram sobre tanta coisa enquanto comiam, com breves pausas para saborear a comida. Só nessa conversa eu soube que Manoel era péssimo na cozinha, viciado em jogos de videogame e de tabuleiro, amava andar de bicicleta e tinha uma ótima relação com o pai. Porém, não era tão próximo assim da mãe. 

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now