Capítulo 63: O encontro - parte 2

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EVA


- Eva, tem uma coisa sobre mim que você não sabe. Acho que nem imagina, mas preciso te contar pra garantir que não haverá segredos entre a gente - Manoel disse, assim que entramos numa trilha a caminho da praça que ele me falou. Ele caminhava com as mãos nos bolsos da jaqueta e mordia o lábio, pensativo.

Engoli em seco.

- Pode falar.

Ele soltou o ar com força e essa foi a primeira vez que pareceu nervoso hoje.

- Eu fiquei com duas garotas.

- Quê?! - Parei de andar abruptamente, com o coração aos pulos, porém não no bom sentido. Foi como se o órgão estivesse flutuando e agora deu de cara com um poste, espatifando-se todo.

Ele parou de andar também e olhou para mim, percebendo o alarme na minha cara.

- Ah, não! - Fechou os olhos por um momento, tentando organizar as ideias. - Espera, não é o que tá pensando! Não fiz isso depois de te conhecer. Eu era adolescente quando aconteceu.

- Ah.

Voltei a andar, um pouco mais tranquila, porém ainda levemente decepcionada. Achei que ele nunca tinha beijado ninguém na vida, assim como eu.

Ele voltou a andar também.

- Desculpa, me expressei mal.

- Tudo bem. Mas... como foi? Pensei que você sempre fugia das garotas.

- Quando eu tinha quinze anos, fui numa festinha na casa de um amigo da escola. Naquela época, eu era muito influenciado por amizades. Aí, eu tomei umas bebidas alcóolicas pra experimentar, por insistência de um amigo. E tinha uma garota, a Michelle. Ela era da minha sala e tava a fim de mim fazia tempo. Aí meus amigos ficaram no meu pé, me empurrando pra cima da garota. E eu não quis. Aí eles começaram uma zoação infinita, dizendo que eu era gay e tal. E eu me senti desafiado. Depois de várias doses de vodca, me enchi de coragem. A garota tava conversando com umas amigas. Eu só cutuquei seu ombro e assim que ela se virou, eu a beijei, na frente de todo mundo. - Ele fez uma pausa e chutou uma pedra em seu caminho.- Não me orgulho do que fiz, mas como Júlia mesma já falou, eu era um adolescente idiota.

- E como ela nunca soube disso? Por que vivia me dizendo que você nunca ficava com ninguém.

- Primeiro, naquela época eu não conhecia a Júlia. Eu era de outra escola. Só fui transferido pra escola dela no ano seguinte.

- Mas e seus pais? Eles brigaram com você?

- Eles nunca souberam disso, Eva. Tenho tanta vergonha dessas coisas que não conto a ninguém. Enfim, eu disse pros meus pais que ia dormir na casa do meu amigo, então... eles não tiveram nem a chance de me ver bêbado. Quando fui pra igreja no domingo, senti aquele peso gigantesco na consciência. Fiquei uma semana sem falar com meus amigos e sem andar com eles. E aí... eu passei a evitar Michelle. Tipo, ela queria ficar comigo de novo, mas eu comecei a fugir muito até ela se cansar. E você não sabe como é difícil quando se estuda na mesma sala que a pessoa.

- Então, foi assim que suas fugas das garotas começaram.

- Basicamente. Pra variar, a Michelle andou contando pros outros que eu beijava super bem e depois que me viram beijando ela na festa, outras garotas quiseram ficar comigo também. - Ele olhou para mim por um momento. - Meus pais eram chamados da diretoria toda semana porque eu fazia muita bobagem, como matar aula, zerar as provas, ficar jogando bolinha de papel na sala. Uma vez, até acertou na cara do professor de matemática. Ele ficou uma fera. Meus pais me mudaram de escola pra tentar me afastar do pessoal com quem eu andava, pra você ter noção do ponto em que as coisas chegaram. Alguns desses amigos até começaram a usar drogas. Cheguei a acobertar eles no banheiro da escola, algumas vezes, mas nunca usei nada. Além do mais, fazia pouco tempo que eles estavam usando drogas quando fui transferido.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now