Capítulo 5: O conselheiro

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MANOEL

Assim que abri o portão de casa, fui recebido na garagem pelo cheiro de alho frito e bife com cebola. Meu estômago me disse um "olá, amigo. Estou aqui e com fome".

— Parece que cheguei na hora certa — comentei, ao atravessar a sala e ir direto para a cozinha.

Minha mãe estava de costas, mexendo uma panela no fogão e meu pai estava ao lado dela, lavando a louça. Eles conversavam animadamente sobre alguma coisa que foi interrompida quando apareci lá.

Eu amava vê-los juntos, porque me fazia acreditar mais ainda em amores que duram uma vida inteira. E não havia nenhum casal mais apaixonado do que meus pais. Eles podiam ter qualquer defeito, mas se amavam como se ainda tivessem quinze anos.

— Perdi alguma coisa? — perguntei, colocando minha bolsa numa cadeira e sentando na outra.

— Manoel, vem cá ver — disse meu pai, olhando para baixo por um momento.

Com uma careta, me levantei e me aproximei deles. Só então, ali no cantinho, perto do fogão, vi uma caixa alta. Ao me aproximar um pouco mais, uma folha gigante de alface se moveu lá dentro, presa à boca de um filhote de tartaruga.

Não consegui evitar um sorriso.

— Não acredito. — Eu me abaixei e observei melhor o animal, mais de perto. — Gabi queria um animal de estimação faz tempo. Mas acho que ela tava falando de um gato ou um cachorro. Será que ela vai gostar da tartaruga?

— Eu passei num abrigo de animais quando estava voltando do serviço, já tem alguns dias. Só pude trazê-la hoje porque ela estava fazendo um tratamento no veterinário. Soube que foi encontrada na rua, toda machucada. Ainda não escolhemos o nome. Vamos deixar essa tarefa pra você e pra Gabi — comentou meu pai, fechando a torneira e passando um pano úmido pela pia. Em seguida, ele fez uma careta. — Falando nisso, onde tá sua irmã? Eu nem a vi hoje, quando saí ela dormia feito pedra.

— Ah, eu deixei ela dormir na casa de uma coleguinha do curso hoje, meu bem — minha mãe disse, casualmente.

— Mas hoje é segunda-feira, Marília. Isso não é dia de tá dormindo na casa dos outros. E como você sabe que ela foi pra lá?

— Eu confio na nossa filha, Douglas. Devia fazer o mesmo.

Minha mãe parecia tão despreocupada que fiquei assustado. Meu primeiro impulso era ligar para Gabi, só para confirmar onde ela estava. E tenho certeza que meu pai pensou a mesma coisa, porque parou o que estava fazendo e pegou o celular.

— Gabriela, onde você tá? — perguntou, como se tentasse não passar tanta autoridade na voz, mas era impossível, já que era bem grave. — Ah, tá bom. Não vai ser preciso. Mande lembranças para Fernanda e pra família dela — ele disse, depois de alguns instantes de silêncio. — E amanhã eu quero a senhorita em casa cedo. Nada de ficar dando trabalho para os outros.

— E aí? Onde ela tá? — minha mãe quis saber, com uma sobrancelha erguida.

— Na casa de uma amiga, como você disse. Ela botou a mãe da menina na linha por um segundo.

Minha mãe bateu com um pano de prato nele.

— Viu? Te falei. Precisa confiar mais na menina.

— Ela que não pense em aprontar, viu?

Eu suspirei, metade aliviado, mas ainda com um pé atrás. Queria ser uma mosca e voar até onde Gabi estava para saber o que fazia. Mas era uma ideia ridícula.

Durante o jantar, meus pensamentos se dividiram entre escolher um nome legal para tartaruga e como conquistar Eva. Mas agora, meu pai já estava em casa e eu podia solicitar seus conselhos.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now