Capítulo 11: A irmã

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MANOEL

Acordei com os berros da Gabi ecoando dentro do meu quarto em plena segunda-feira. Dia de serviço. Volta às aulas. Abri os olhos devagar para checar as horas no relógio.

Seis da manhã.

Eu entrava no serviço às dez. Geralmente, levantava às oito e meia. O que estava acontecendo?

- Que saco - murmurei, com uma leve pontada de irritação pela interrupção do meu sono. E meu sonhava com Eva. Lembrava do sonho como um borrão, mas era ela andando de bicicleta, com os cabelos escuros esvoaçando pelo vento. E ela ria tanto, enquanto atravessava uma trilha de algum parque aleatório. As cores eram tão vívidas que parecia real. Imagina a minha frustração ao notar que estava sonhando...

Agora só ouvia os sons estridentes da voz da minha irmã e da minha mãe. Para variar, minha cabeça doía.

Bufando, levantei da cama, saí do quarto e desci escada abaixo, quase tropeçando no mesmo ponto de sempre.

Encontrei minha irmã sentada no sofá da sala, de cabeça baixa, com lágrimas escorrendo pelos olhos. Ela usava um vestidinho preto bem colado e curto que nunca vi na minha vida. Minha mãe tinha as mãos na cintura e uma expressão autoritária marcava seu rosto.

Já meu pai, estava sentado no outro sofá, em silêncio, com as mãos cruzadas na frente do corpo, encarando a mesa de centro como se tentasse quebrá-la só com os olhos.

Cocei o olho e afastei o cabelo rebelde da cara com a mão.

- Mas que gritaria é essa tão cedo, pessoal?

Minha mãe foi a única pessoa a erguer os olhos para mim. Meu pai levantou do sofá e pegou sua jaqueta jeans.

- Eu vou trabalhar, mais tarde a gente conversa - disse para minha irmã, em um tom severo que até eu fiquei com medo.

- Conta pra ele o que aconteceu, menina! - exclamou minha mãe.

- Me deixa em paz! - Gabi gritou, levantando do sofá com ímpeto.

Ela passou correndo por mim na escada e foi para seu quarto. Pude ouvir o som da porta batendo com força.

Minha mãe suspirou e sentou no sofá. Ao perceber a gravidade da situação, toda minha irritação por ter sido acordado cedo foi pelo ralo.

- Mãe, o que foi? - Eu me aproximei dela e sentei no sofá ao seu lado.

- Eu não sei mais o que fazer com essa menina. Toda vez que lhe dou um voto de confiança, ela apronta. - Ela balançava a cabeça, arrasada.

Ergui a mão e afaguei suas costas.

- Ela saiu do castigo?

- Eu levantei mais cedo hoje e encontrei sua irmã abrindo a porta de fininho, com as sandálias nas mãos e totalmente fora de si. Ela parecia tão comportada na igreja ontem, apesar dos olhares das irmãs. - Minha mãe balançou a cabeça em reprovação.

Há alguns dias, uma das irmãs da igreja viu um vídeo da minha irmã dançando funk no Tiktok e mostrou para ela, o que a faz morrer de vergonha e dar a maior bronca em Gabi. Agora, minha irmãzinha estava de castigo e ainda foi colocada de banco, pela líder do ministério de dança da igreja. Sinceramente, até eu fiquei decepcionado com a situação, mas tentava... amenizar as coisas. Tentei conversar com Gabi algumas vezes, mas foi impossível. Ela agia como uma criancinha, tapava os ouvidos, imitava tudo o que eu dizia e estava fora de si.

Agora, sair de casa durante a noite foi demais. Ela passou de todos os limites. Não sei como conseguiu. O quarto dela ficava ao lado do meu, como não percebi nenhum movimento estranho na casa? Acho que dormi feito pedra.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now