Capítulo 29: O convite

26 8 0
                                    

EVA

— Eva, quem te deu esse abajur? 

Meus olhos se abriram e eu me sentei na cama abruptamente. Quando foi que minha mãe entrou no meu quarto? E que horas eram? Para ela chegar a esse ponto, eu devia ter dormido demais. Nunca acordava tarde, nem nos finais de semana. Era uma pessoa matutina. Se eu acordasse depois das nove, pode ter certeza que meu dia não renderia nada. 

Esfreguei um dos olhos e bocejei. Ainda tinha sono. Olhei para o lado e encontrei minha mãe parada ao lado da cama, segurando meu abajur de cerejeira. Sua atitude deveria me causar pânico, porém eu ainda estava grogue de sono, incapaz de raciocinar direito, totalmente apática. 

— Bom dia, mãe. 

— Você não respondeu minha pergunta. Foi tua avó que te deu isso? Aquela mulher vive passando a mão na sua cabeça. 

Suspirei. O dia mal começou e eu já previa uma dor de cabeça daquelas. 

— Foi o Manoel.

— Quem é Manoel? Você não tá namorando escondido não, né? Se teu pai pegar…

Afastei as cobertas da cama e fiquei de pé. 

— Não, mãe. O Manoel é um colega da faculdade. Contei a ele sobre meu medo de escuro e ele me deu o abajur. E não se preocupe, não precisa ligar na tomada, não vai gastar energia. Ele pensou em tudo. 

Passei por ela, me arrastando até o guarda-roupa. Depois de abri-lo, puxei uma blusa rosa claro da pilha de roupas perfeitamente dobradas por tons, porque eu organizava o guarda-roupa por cores. Achava bonito. 

O silêncio prolongado da minha mãe começou a me incomodar quando vesti a blusa e uma calça jeans.

Vamos lá, mãe. Me dê a bronca do dia e me esqueça depois. 

— Traz ele aqui. 

Ergui os olhos para ela, fazendo uma careta. Não devo ter entendido bem. 

— Hã? 

Minha mãe me encarou. Sua expressão não me dizia nada, mas tive a impressão de ver uma sombra de preocupação em seus olhos. 

— Quero conhecer o rapaz. 

Um sorriso debochado escapou dos meus lábios, como se ela tivesse me contado uma piada bem idiota.

— Não. 

— Por quê?

— A gente se conhece só tem umas duas semanas. Não faz sentido ele vir aqui.

— Você não acha estranho o rapaz te conhecer há tão pouco tempo, já saber dos seus medos e te dar um abajur? Preciso entender o que ele quer, porque isso não é normal. 

Ótimo. Maldita hora em que abri a boca e revelei há quanto tempo o conhecia. Só deixei minha mãe mais desconfiada. O jeito mais fácil de arrancar verdades da minha boca era quando eu estava sonolenta, já que não conseguia planejar o que falar e inventar desculpas. 

Minha mãe pegou no meu ponto fraco. E eu não sei se ela sabia disso. Suspeitava que sim. 

— Ele só estava sendo atencioso, mãe. — Algo que nem a senhora e nem o meu pai sabem o que é...

— Eu não quero saber, Eva. Se você não trouxer o rapaz aqui, vai devolver o abajur. 

Arregalei os olhos. 

— Mas mãe…

— Não tem “mas”. É a minha palavra final. 

Seu tom carregado de autoridade me irritava na maioria das vezes, porque ela não sabia conversar como uma pessoa normal. Logo parecia que estava gritando e se alterando. Por que minha mãe se colocava na defensiva por tudo?

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora