Capítulo 27: O abajur

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EVA

Por que não mandei mensagem para Júlia?

Por que no momento em que mais estive assustada e me vi sem saída eu peguei o celular e mandei mensagem para Manoel? Qual o meu problema? Eu o conhecia há tão pouco tempo...

Júlia era minha amiga há um ano e meio e nunca me senti à vontade o bastante para desabafar com ela, só nos últimos dias que resolvi fazer isso. E mesmo assim, quis recolher as palavras de volta.

Com os cotovelos apoiados na mesa da praça de alimentação da faculdade, encarei meus cadernos. Planejava chegar mais cedo para estudar, porém fazia meia hora que estava distraída com meus pensamentos. Não conseguia esquecer a conversa que tive com Manoel de madrugada, a forma como ele conseguiu me acalmar, algo que só minha avó conseguia, sua paciência comigo e generosidade. Eu sabia quando alguém estava sofrendo só pelo tom de voz. Manoel parecia desolado e eu não tinha visto essa sua versão antes, o que me deixou um pouco perturbada.

Não devia tê-lo incomodado. Sabe-se lá que horas o rapaz foi dormir! Eu acordei pela manhã, com o celular jogado ao meu lado e os fones de ouvido caídos, quase para fora da cama. Depois, percebi que em algum momento Manoel encerrou a ligação. Talvez quando percebeu que eu dormi. Pior era que quando peguei no celular de manhã, havia uma mensagem dele no chat dizendo "Bom dia, senhorita! Dormiu bem? Espero que sim! Então, tenha um bom dia ☺️"

Nunca me senti tão desestruturada por uma mensagem curta dessas.

Que vergonha! E se eu roncasse e não sabia disso? E se ele ouviu algo? Além do mais, pela conversa intensa que tivemos, isso me fazia ter uma sensação de intimidade desconfortável, que eu nem queria ter.

Eu me sentia em carne viva. E, provavelmente, fugiria de Manoel até as férias de dezembro.

Fechei os olhos e os cobri com as mãos.

Ainda tinha sono. Dormi muito tarde e acordei cedo. Não fui na casa da vovó hoje porque minha mãe insistiu para eu ficar em casa e porque tive que fazer uma faxina lá. E embora eu estivesse pasma que consegui dormir no escuro, não conseguia parar de pensar em como faria essa noite, e na próxima.

Não teria Manoel na linha comigo sempre para me ajudar a dormir. E já foi constrangedor o bastante ele ter ligado. Não esperava por isso. Ele não podia mandar áudio ou mensagem de texto como uma pessoa normal?

Eu odiava receber chamadas, morria de vergonha.

No entanto, meu desespero foi tão gritante que atendi a ligação dele!

- Cara, se você não fosse crente, ia dizer que tá de ressaca!

Quando abri os olhos, observei Júlia se sentar à minha frente.

- Oi. - Minha voz saiu fraca.

- Olá. Menina, o que aconteceu? Que desânimo! Como você vai fazer a prova hoje?

Arregalei os olhos.

- Prova? Que prova, Júlia?!

Ela riu.

- Tô brincando, relaxa.

Coloquei a mão no peito e expirei com força.

- Não faz mais isso.

Júlia tirou seu colete jeans e o depositou ao seu lado, na cadeira que estava vazia.

- Desculpa. Mas então, tá animada pra amanhã?

- Amanhã? O que tem amanhã?

- Meu Deus, amiga! Te convidei pra ir no culto de jovens na minha igreja, lembra?

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now