Capítulo 4: O protetor

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MANOEL

Já se passaram três dias desde a festa de despedida de Jornalismo, na faculdade. Eva não reagiu aos meus comentários em suas fotos no Instagram. Também não respondeu minha solicitação de amizade no Facebook. Talvez, até tivesse excluído.

Não queria ser pessimista. Ela poderia ter esquecido. No entanto, eu não conseguia parar de analisar cada comentário que deixei em suas fotos, numa tentativa de ver se falei bobagem.

Uma das fotos era do pôr do sol visto de uma sacada de apartamento, perto da praia. Nessa eu comentei "linda foto, adoro praia. Você gosta também? Prefere ficar no mar ou na areia?" É, talvez eu tenha me precipitado. Acho que pareci afobado.

- Droga - sussurrei para mim mesmo, rolando o dedo pelo perfil de Eva, olhando outras fotos. Era péssimo em paquerar alguém. Sempre achei que eu demoraria a ter interesse numa garota. E agora que eu tinha, todo o bom senso havia me deixado, assim como minha personalidade naturalmente alegre e descontraída. Me tornei nervoso e imbecil. E isso porque só nos falamos uma vez. Digo, eu falei. Ela só disse duas palavras, que eu nem tinha certeza se entendi.

Nunca pensei que seria difícil conquistar uma garota. Mas diante do meu dilema, precisava apelar para alguém que eu tinha certeza que saberia o que dizer. No entanto, meu pai não estava em casa. Saiu mais cedo para a marcenaria onde trabalhava. E minha mãe foi ao ginecologista para fazer exames de rotina. Faltavam alguns minutos para eu sair pro trabalho, quando me sentei na cama e comecei a rolar o feed do instagram de Eva. Eu também não era um cara muito presente nas redes sociais, mas nos últimos dias passei a ser.

Depois de esfregar uma toalha de rosto no cabelo para secá-lo bem, terminei de colocar meus tênis e peguei minha mochila. Saí do quarto e desci as escadas correndo. Tropecei no penúltimo degrau e caí sentado, agarrado ao corrimão.

- Por que você sempre cai da escada, mano? - A voz estridente e risonha de Gabi, minha irmã caçula, foi motivo o bastante pra eu levantar depressa. - É só prestar atenção. Qual a dificuldade?

Caminhei até a cozinha e a vi colocando dois pães no microondas. Puxei uma cadeira e me joguei nela.

- E você devia cuidar da sua vida, não acha?

- Pois eu cuido muito bem dela.

Quando a garota se inclinou um pouco sobre a pia, parei para observar sua roupa. Uma blusa regata branca, sapatilhas pretas, pulseiras coloridas no braço, uma mini saia preta...

Mini saia?!

Arregalei os olhos.

- Ei, mocinha! Onde a senhorita pensa que vai nesses trajes? Vai trocar de roupa. Agora. - Meu tom era incisivo.

Ela mudou a postura e ofegou.

- Minha mãe deixou eu usar. Ela disse que não tinha problema. E o meu pai não tá em casa. Não posso trocar de roupa agora, tenho que ir pro curso. Vou me atrasar e todo mundo vai ficar olhando pra mim.

Gabi fazia curso de inglês duas vezes por semana e ainda não estava de férias. Eu me levantei da cadeira.

- Todo mundo vai ficar olhando pra sua bunda e pra suas pernas se você for assim. Qual o seu problema?

- O meu problema? É você que tem um problema aqui! Fica falando essas coisas machistas. Roupas assim estão na moda e eu sou jovem e bonita! E a minha mãe...

- Não interessa se a nossa mãe deixou. Eu não deixo. E garanto que o pai também não vai gostar dessa ideia. Agora, sobe. Tô falando sério.

Os olhos dela se encheram de lágrimas, talvez pela forma como eu falei e como a encarei. Gabi era uma adolescente muito sensível, se ofendia com tudo.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now