Capítulo 2: O visionário

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MANOEL

Eu era um idiota. Se antes havia alguma dúvida, agora eu tinha certeza, a julgar pela forma como os babacas dos meus colegas riam de mim depois de eu ter lhes contado como abordei a garota que estava interessado.

— Cara, você mandou muito mal. Assustou a menina. No lugar dela eu também fugiria — comentou William. — Você podia ter me pedido conselhos, né? O pai aqui manja. — Ele apontou para si mesmo, gabando-se.

De alguma forma, o comentário me fez pensar que eu tinha me precipitado.

— Ah, pelo menos fiz alguma coisa. Sabe-se lá quando eu ia ver ela de novo.

— Mas agora acho que cê não vai ver nunca mais — continuou o colega. Os outros riram.

— Quem disse? Agora tenho uma carta na manga. Temos algo em comum. E ela se chama... — Fiz uma pausa dramática e ergui os dedos no ar, para enfatizar o que diria a seguir: — Júlia.

— Quem é Júlia? — perguntou outro colega.

— Eu sou a Júlia. E preciso falar com esse mané aqui. — A garota brotou do meu lado e começou a me arrastar, me puxando pela blusa.

Deixei os caras para trás, com olhar de divertimento e especulação, e segui minha amiga. Porque sim, por mais que fizesse uns três anos que eu não visse Júlia e não fôssemos muito próximos na escola, eu a considerava uma amiga. E ninguém podia deixar de ser meu amigo até que eu decidisse isso.

— Ai, garota. Você tá me machucando — resmunguei, quando senti uma de suas unhas alfinetar meu braço.

— Como você é sensível! — Ela me soltou e cruzou os braços.

— Então, me conta. O que foi? A gatinha foi embora?

— A gatinha tem nome, é Eva. E você estragou tudo. Ela não quer te ver nunca mais.

— Droga. Mas e agora? O que eu faço?

Ela riu, como se não acreditasse nas minhas palavras.

— Ora, você a deixa em paz. Finge que nada aconteceu. Você não tem mais o que fazer?

Foi a minha vez de cruzar os braços.

— Tenho, mas eu quero ela, Júlia. É sério.

— Manoel, o mundo não gira ao seu redor. Não acha que tá sendo arrogante? Ela não te quer. Você não faz o tipo dela e certamente ela odeia o tipo de abordagem que você usou. Melhore, para não pagar mico quando for paquerar outras garotas.

Dei de ombros.

— Não quero outras garotas. Quero ficar com Eva.

— Ela não fica. Ela é da igreja.

Dei um sorriso de lado. Como se gente da igreja não ficasse com ninguém por aí, às escondidas...

Mas esse não era o ponto.

— Júlia, eu não tô falando de um lance sem compromisso. Eu quero conhecer a garota, me apaixonar e ter um futuro com ela. Não saio por aí dando em cima de todo mundo. Você sabe, eu não fazia isso nem na época da escola. Tinha vergonha das meninas, lembra?

— É. Algumas delas ficavam brincando com seu cabelo e você ficava vermelho e fugia delas. Eu lembro. Mas Eva... — Ela fez uma careta. — Não pode se interessar por outra pessoa? Você não faz o tipo dela.

Coloquei as mãos na cintura.

— Eu posso fazer.

Ela riu.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]حيث تعيش القصص. اكتشف الآن