Capítulo 15: Os presentes

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MANOEL

Deixei o peso do corpo despencar sobre a cama assim que entrei em casa. Era como se um trator tivesse passado por mim e destroçado meus ossos, um por um. Cada centímetro do meu corpo.

Fiquei repassando na minha mente a conversa que tive com Eva e toda nossa interação na faculdade. Tinha certeza que Deus deu um empurrãozinho, porque nada explicava o fato de a gente estudar no mesmo bloco, mesmo andar e ainda Eva ter me encontrado saindo do prédio principal.

E quando a encontrei na saída? Ah...

Não. Não era simples coincidência. Era propósito. Eu sabia. Supreendi a mim mesmo por ser capaz de manter uma conversa normal com a garota, sem falar bobagens ou coisas que pudessem constrangê-la.

Queria não chegar tão tarde em casa e encontrar meu pai acordado para conversarmos mais sobre Eva. No entanto, sabia que não era possível. Meus pais acordavam muito cedo para trabalhar e eu chegava tarde em casa. Praticamente não os via, só nos fins de semana.

Recostei a cabeça no travesseiro e encarei o teto.

Hoje foi a primeira vez que Eva riu de algo que falei sem tentar se conter. Talvez ela não tenha percebido, senão teria reprimido de alguma forma. Mas foi tão natural...

E não é que ser eu mesmo realmente estava funcionando? Meu pai ficaria orgulhoso de mim ao saber o quão gentil e cavalheiro eu fui. Talvez essas coisas conquistassem muito mais do que chegar dando em cima da garota, porque mostrava cuidado e proteção. E que garota não gostaria de se sentir protegida?

Agora que já plantei a dúvida no coração de Eva, restava saber se eu a veria nas aulas de Paleontologia ou não. Quanto mais tempo eu passasse com ela, melhor.

Pisquei. Meus olhos pesavam de sono e eu ainda precisava levantar, tomar um banho e trocar de roupa. Minha mochila estava jogada ao meu lado. Tinha que arrumar as coisas.

Porém, fui derrotado pelo cansaço e acordei horas depois, desorientado, com o despertador aos berros no meu ouvido. Não cheguei nem a tirar os tênis! Passei a mão pelo rosto e desliguei o alarme do celular. Eu realmente dormi sem ao menos um cobertor e todo torto na cama?

Suspirando e ainda cansado, levantei e corri para o banho. Fiz minha oração matinal no chuveiro mesmo (era o tempo que eu tinha).  Dessa vez, não encontrei ninguém em casa quando cheguei à cozinha. Tomei um copo de suco que encontrei na geladeira e saí ainda mastigando um pedaço de pão com mortadela.

No ônibus, conferi algumas mensagens nos grupos do whatsapp. Havia umas cem só no grupo da família e umas vinte no grupo de trabalho da faculdade. Meus amigos e eu formávamos o mesmo grupo desde o primeiro semestre, com apenas algumas alterações. Mas em geral, eram sempre as mesmas pessoas.

Eles estavam discutindo sobre o trabalho de Toxicologia. Tínhamos que desenvolver um artigo científico para entregar no fim do semestre. Não sei porque precisava de grupo para isso. Mas nos dividimos de modo que eu e outro colega faríamos a pesquisa de campo e os outros dois escreveriam.

Quase passei do ponto por me distrair com as mensagens.

Chegando na loja, cumprimentei a todos como sempre e fui trocar de roupa. Assim que bati o ponto, Mariana se aproximou de mim.

Ela usava um perfume doce que dava para sentir de longe. E parecia mais arrumada também.

— Bom dia, Manoel! — Sorria e sua voz soava dançante ao dizer meu nome.

Estreitei os olhos, lembrando das palavras de Caio.

Droga.

— Bom dia, Mariana.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now