Capítulo 41: O revellion - parte 3

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EVA

Só arrisquei sair do banheiro quando meu rosto já não denunciava mais as marcas de choro. Uma olhadela no espelho me fez ter certeza. Nada de olhos vermelhos ou inchados. 

Retoquei minha maquiagem e tentei me preparar mentalmente para o desastre que essa noite se tornou. Pediria mil desculpas para Manoel, porque o larguei sozinho numa cova de leões, sem nada para se defender. 

Meus pais iam massacrá-lo. Isso era fato. Ele sairia da minha casa me odiando. E como eu pude ser tão fraca? Por que deixei as palavras ácidas da minha mãe me afetarem desse jeito? Achei que estava acostumada. Achei que havia um escudo, uma camada protetora em torno do meu coração. 

Talvez, seus comentários tenham me afetado tanto porque foi na frente de Manoel. Se não tivéssemos visita em casa, eu relevaria. Porém, minha mãe me envergonhou. Fez parecer que eu não sabia cozinhar e que era uma inútil. Fez eu me sentir uma criança idiota, se aventurando na cozinha. Nem ousei olhar para o rosto de Manoel ao sair de lá.

Abri a porta do banheiro devagar. Não queria fazer barulho. Caminhei lentamente pelo corredor, me escorando um pouco pelas paredes, como uma lagartixa envenenada. Tinha medo do que encontraria ao chegar na sala ou na cozinha. Talvez, Manoel tivesse ido embora. Eu entenderia, até faria o mesmo. 

No entanto, quanto mais me aproximava da sala, mais ouvia uma voz.

Enruguei as sobrancelhas. 

Não eram as familiares vozes da minha mãe e da vovó discutindo. Tampouco a voz de Manoel. 

— … Aí, ele quase me derrubou na água, mas consegui tirá-lo de lá a tempo. Pense num bicho enorme, aquilo não era um peixe não. Era um tubarão! 

Arregalei os olhos. Meu pai gesticulava animadamente e contava alguma coisa para Manoel, que ouvia como um discipulo ouve ao seu mestre. 

— E depois, seu Geraldo? Vocês conseguiram levá-lo pra casa? Acho que um troço desse me derrubaria, certeza. 

Meu pai ia prosseguir contando a história, porém silenciou ao me ver parada na entrada da sala. O olhar de Manoel seguiu o seu. 

Ai, meu Deus. Por quanto tempo fiquei naquele banheiro? Por que o clima na sala era tão caótico? Por que meu pai estava com as mangas da blusa arregaçadas, sentado no tapete, descalço e com o cabelo um pouco desalinhado? Quem era essa pessoa? 

— Fala, Eva — disse, com aquele tom rabugento e autoritário de sempre. 

E mesmo assim, ele parecia tão jovem daquele jeito. E o que aquelas peças de dominó faziam jogadas na mesa de centro ao lado de dois álbuns de fotos? Julgando pela capa acinzentada, nunca os vi na minha vida.

Me aproximei devagar e sentei no sofá. Manoel ergueu os olhos para mim. 

— Seu pai tava me mostrando umas fotos da época de solteiro dele. Ele me contou que era pescador, no vilarejo em que morava, em Manaus. 

Ergui uma sobrancelha para ele. Manoel, o que foi que você fez com o meu pai? A pergunta ficou entalada na minha garganta. 

Ele sorriu lentamente para mim, como se soubesse o que pensei.

— Quer assistir alguma coisa? — meu pai perguntou ao rapaz. — Tenho DVD aqui. — Foi até a estante, abriu uma gaveta e tirou vários filmes de ação mesclado com aventura. — Você gosta de 007? 

Com entusiasmo, Manoel sentou no sofá.

— Adoro esse filme! Manda ver.

Meu pai colocou o filme no aparelho de DVD e eles fixaram os olhos na TV. Confesso que eu odiava filmes de ação e o que estava passando era antigo. 

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now