Capítulo 44: A bomba

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MANOEL

Uma onda de pânico me invadiu só de pensar em me declarar. Devia abordar o assunto lentamente, talvez introduzindo conversas sobre vida amorosa. Era melhor sondá-la e, dependendo de suas respostas, eu decidiria se me declararia ou não.

Não tive tempo para pensar muito no assunto, porque Eva apareceu na sala, enxugando os cabelos com uma toalha, segurando sapatos na outra mão. Depois, sentou no sofá e calçou os tênis. Ela estava tão confortável e à vontade comigo que não se importou de terminar de se arrumar na minha frente.

Gostei disso.

Quando Eva terminou, nos despedimos de Ofélia e passamos na casa dela para avisar seus pais. Eles me cumprimentaram com aperto de mãos e seu pai quis saber quando jogaríamos videogame de novo. Eu lhe prometi que o visitaria e levaria o meu console com os jogos que mencionei da outra vez. Pretendia ensiná-lo.

Geraldo disse que se não fosse por um compromisso que tinha na igreja daqui a pouco, teria se oferecido para nos levar até minha casa. Mas eu disse que podia ficar em paz, porque daria outro jeito.
Tentei chamar um Uber, mas ele demorou demais. Então, Eva e eu fomos para um ponto de ônibus mais próximo.

Não trocamos muitas palavras até estarmos dentro de um veículo quase vazio, sentados num banco perto da porta dos fundos.

- Eu me diverti muito hoje, com a vovó Ofélia e as amigas dela - comentei.

- Tive receio que você não fosse gostar delas. Elas não param de falar nem por um segundo.

- Querida, olha só pra quem você tá falando isso.

Ela riu.

- Tem razão.

- Inclusive, devíamos marcar um dia pros nossos pais se conhecerem. O que você acha?

Seu rosto se fechou. Ela ficou tensa. Cara, como eu ia falar sobre meus sentimentos? Vovó Ofélia enlouqueceu.

- Pode ser. - Apoiou as mãos nas pernas.

- As férias tão acabando. - Tentei mudar de assunto. - E vamos voltar pra vida real, de estudantes ocupados. Espero que a gente caia nos mesmos blocos.

- Tomara.

- Podemos pegar a mesma optativa de novo. Semestre passado foi divertido, não foi?

- Foi sim.

Mas que droga. Ela estava sendo tão... evasiva. Distante.

- Quer ouvir música, Eva?

- Quero.

Ela olhou para mim enquanto eu pegava meu celular e um fone de ouvido no bolso da bermuda. Encaixei o fone, coloquei um deles no meu ouvido e entreguei o outro para ela.

- O que vamos ouvir? - perguntou.

- Só uma das melhores estações de rádio do planeta.

Coloquei na minha rádio de rock clássico favorita. Estava tocando Lifehouse, You and Me. Que ironia, né?

Eva riu.

- Você ouve rádio FM?

- Sim, eu gosto.

Ela riu mais.

- Ai, não acredito, Manoel. Com tantos aplicativos de música... Só você mesmo, viu?

Permiti que ela risse de mim mais um pouco. Pelo menos era melhor do que ficar tensa. Quando o vocalista de Lifehouse chegou na parte que diz "And I don't know why I can't keep my eyes off of you" eu quis cantar para ela.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora