Capítulo 7: O aconchego

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EVA

- Talvez ele tenha percebido que estava fazendo tudo errado. Acho que ainda há esperança pra esse mundo - disse vovó.

- É, talvez. - Continuei de sobrancelhas franzidas e apertei os lábios. Por que ele excluiu os comentários? E por que isso me incomodou? Era melhor assim. Eu sabia que ele desistiria se eu não respondesse. Só então, uma ponta de alívio me atingiu.

- Pelo menos o rapaz é bonito?

Enfiei o celular de volta no bolso da calça e quis rir, lembrando da aparência de Manoel. Tão, tão diferente de Thiago...

- Ele é magro demais. E tem aquele cabelo enrolado, com pontas desiguais. Me dava agonia dele falando e o cabelo balançando na cara. E também usava um perfume forte demais. Parece que o perfume chegou lá antes dele.

Ela riu.

- Seu vô também não era lá essas coisas quando o conheci. Vou te mostrar umas fotos do meu álbum de casamento.

- Ah, mas eu não tô pensando em ter alguma coisa com Manoel. Ele é só mais um daqueles caras idiotas. Além do mais, eu não quero namorar agora porque preciso focar nos estudos. A senhora sabe que o curso de Jornalismo é tudo pra mim, sonho com isso há anos. Meus pais já não querem que eu trabalhe pra estudar. Imagina arrumar namorado... Eles surtariam. Eu prefiro namorar alguém mais pro fim do curso ou quando me formar. E ainda tem aquela lista que perdi faz um tempo. Preciso encontrá-la, não lembro de muita coisa. Talvez, deva fazer uma lista nova. Gostaria de um homem inteligente, atencioso e, acima de tudo, cristão. Claro que ainda tem o fato de ele ser honesto... - Assumi um ar sonhador.

- Sei, e o rapaz da igreja? Sabe se ele tem essas características?

- Ainda não conversamos.

- Precisa arrumar um jeito de falar com ele.

Soltei um suspiro.

- Eu sei que deveria, mas é melhor orar a Deus sobre isso primeiro. Na verdade, eu não sei nem porque criei interesse nele, porque meu objetivo é terminar a faculdade antes de entrar em um relacionamento. Talvez, seja só uma queda boba, de fim de adolescência. Afinal, nunca vi um cara tão bonito quanto Thiago.

- Pensando bem, você tem razão. É melhor esperar concluir a escola. Só não vá esperar demais, viu? Ainda quero ver meus bisnetinhos correndo por essa casa.

Abri um sorriso. Minha vida era tão mais fácil quando estava com vovó que ficava até mais confortável dar uma risada sincera. Passamos o restante do dia conversando mais sobre temas leves.

Quando Gigi e Alfredo entraram em casa, eu coloquei a ração deles e lhes fiz um carinho na barriga. Saí de lá perto das oito da noite, alegando que diria aos meus pais que passaria o restante das férias na casa dela e voltaria na mesma noite com uma mochila.

Assim que entrei em casa, encontrei meu pai vendo jornal na televisão e minha mãe estava na cozinha, provavelmente arrumando a louça do jantar e reclamando que meu pai deixava as coisas jogadas por aí. Ele fingia não ouvir e mantinha os olhos sobre a televisão.

- Como sua vó tá? - perguntou, sem olhar para mim, quando me sentei no sofá.

Engraçado como meu pai sempre perguntava dela, mas se recusava a visitá-la.

- Bem, mas com saudade do senhor.

Ele suspirou.

- Isso não é novidade. Ela só está fazendo o mesmo drama de sempre. A gente sempre passa os feriados com ela. - Havia uma ponta de sarcasmo em seu tom de voz que me irritou um pouco.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now