Capítulo 33: A exposição

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MANOEL

A fala da minha irmã fez Eva arregalar os olhos. Depois de encarar nossas mãos por um segundo, ela me soltou e olhou pela janela. Percebi que se revirou no assento, como se tentasse tomar alguma distância de mim.

Muito obrigado, Gabi. Muito obrigado!

Eu a encarei a tempo de fulminá-la com os olhos. Ela sorriu perversamente. Estava jogando comigo. Considerei que deveria tê-la deixado em casa, porém sabia o quanto a menina estava ficando deprimida. Ainda não sabia como lidar com os amigos e, embora não desse para ver sua barriga, começou a usar roupas largas. No sábado, foi ao shopping com minha mãe e renovou o guarda-roupas. Talvez, o truque desse certo, mas duraria apenas por um tempo. Gabi não podia fugir para sempre. Uma hora as pessoas saberiam e eu já me preocupava com quando essa hora chegasse. Como minha irmã lidaria com a situação? O que ela faria quando tentasse esconder a barriga e não desse mais certo? Se trancaria em casa até o bebê nascer? Ninguém queria que a garota perdesse o ano na escola.

Meus pensamentos foram interrompidos quando o metrô parou na estação do Morumbi e descemos. Tivemos que andar por algumas quadras, agrupados. Eva ficou em silêncio desde que segurou minha mão.

Era impossível saber o que se passava na cabeça dela. Enquanto isso, Gabi tirava umas fotos ao meu lado, de alguns parques, fontes e prédios, para postar nas redes sociais.

Quando entramos no shopping, seguimos o professor na direção das escadas rolantes. Subimos uns dois lances até chegarmos no que parecia um espaço reservado para exposições. Demos de cara com uma fachada dizendo "Mundo dos Dinossauros". Assim que pisamos os pés ali, fomos conduzidos por um instrutor.

Não parecia mais que estávamos dentro de um shopping. Um jardim cercava a passarela por todos os lados. Ergui a cabeça para vislumbrar melhor o primeiro tiranossauro. Estava de boca aberta e tinha dentes enormes. Abaixo dele, havia uma placa com breves explicações. Porém, o instrutor começou a nos explicar algumas coisas sobre o animal. Olhei para Eva e vi que anotava um monte de coisa em um caderninho.

Boa garota.

Sei que eu também deveria estar anotando, mas esqueci meu caderno em casa.

Do outro lado, Gabi focava em tirar várias fotos dos dinossauros e tentava até fazer uma selfie com alguns, fazendo bico para câmera, o que me fez rir.

— Por aqui, temos o exemplo de um velociraptor mongoliensis, que existiu em torno de 84 milhões de anos atrás. Sei que muitos de vocês devem pensar que eles eram enormes, mas há indícios de que mediam em torno de dois metros de altura e pesavam em torno de vinte quilos — disse o instrutor, nos mostrando a representação do animal, um pouco mais adiante. — Ao contrário do que é mostrado nos filmes, oa velociraptors tinham penas e se assemelhavam às aves. Vamos ao tiranossauro, que passou a existir apenas no final do período cretáceo...

Olhei para Eva mais uma vez, enquanto o homem explicava sobre os tiranossauros. Reparei que ela deixou o caderno de lado para tirar uma foto do bicho.

Me aproximei um pouco dela.

— Se quiser, posso fazer umas anotações enquanto você tira foto.

Ela me encarou.

— Por que não trouxe um caderno para anotar?

— Eu esqueci. De qualquer forma, o professor vai passar trabalho em dupla, então acho que não tem problema se eu anotar no seu.

Ela deu de ombros.

— Tá bom. — Me entregou o bloco de notas e a caneta.

Quase sorri ao reparar na forma organizada como ela detalhou as informações em seu caderno. Parecia um artigo de algum site de tão bem escrito. Até evitei anotar na mesma folha, passei para a próxima. Esperava que a gente conseguisse reunir as informações necessárias para fazer o trabalho que o professor ia pedir.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now