Capítulo 21: A escada

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MANOEL

Isso vai ser mais difícil do que pensei. Droga - sussurrei para mim mesmo, no dia seguinte. Estava há alguns minutos parado perto das catracas do bloco A da faculdade, esperando por Eva. Planejei mentalmente várias vezes sobre como contaria a respeito de sua avó, mas minhas mãos ainda suavam e eu tive que esfregá-las nas calças o tempo todo.

Comecei a andar de um lado para o outro.

- Eva, sua avó esteve na loja em que trabalho e...

Ouvi a risada de William atrás de mim.

- Que isso, brother? Tá falando sozinho? - Ele se aproximou e pôs a mão no meu ombro.

- Oi, William. Não te vi.

- Você parece nervoso. O que foi?

Não era confiável contar nada para ele.

- Coisa minha. Nada de mais.

- Ah, então vamos entrar? O professor já deve tá na sala.

Relutante, eu assenti e pegamos o elevador. Chegando na sala, forcei a minha mente a esquecer um pouco a conversa que teria com Eva e tentei ser mais presente na aula. Para variar, teve prova surpresa dissertativa sobre a farmacoterapia das doenças infecciosas e virais, com direito a estruturas moleculares de fármacos e espaços para resoluções.

Esfreguei a mão no rosto e virei a folha. No verso, havia um estudo de caso sobre uma paciente jovem que chegou ao hospital com febre e suspeita de coronavírus.

Mas eu deixaria o estudo por último. Foco nas perguntas dissertativas.

No fim, não foi tão difícil quanto pensei. Tinha algumas lembranças de coisas que aprendi no semestre passado e de aulas práticas no laboratório de química.

Quando a aula acabou, peguei minhas coisas e só faltei voar pelo corredor da faculdade. Estava apertado para usar o banheiro. Meus colegas foram ao laboratório de química guardar as coisas para a aula de Toxicologia e levaram minha mochila, dizendo que guardariam um lugar para mim e depois me esperariam na praça de alimentação para discutirmos sobre o artigo científico que estávamos produzindo.

Quando saí do banheiro, a tal coincidência me sorriu mais uma vez e meu coração deu um solavanco. Eva bebia água em um dos bebedouros perto do elevador. Júlia estava ao seu lado, falando sobre alguma coisa. Não importava. Fui até elas mesmo assim.

- E ai, Manoel? Tudo beleza? - perguntou, sorrindo ao me ver.

Eva endireitou o corpo e passou a mão pela boca, tirando os vestígios de água.

- Olá, senhoritas! - exclamei alegremente, como se nem estivesse me cagando de nervosismo. Eu era muito bom ator, mesmo.

Eva apertou os lábios, como se fosse o início de um sorriso. Um sorriso cheio de reticências, que não chegava aos olhos.

- Ô Júlia, você não tem nenhum livro que queria ler na biblioteca não? - perguntei.

Ela pôs a mão na cintura.

- Não.

- Tem sim, Júlia. - Meu tom era incisivo, com um toque de desespero, e eu esperava que ela notasse a súplica em meus olhos.

- Se você quiser incomodar minha amiga de novo, Manoel, eu não vou arredar o pé daqui.

Eva tocou seu braço.

- Tá tudo bem. Me espera na praça de alimentação.

A amiga arregalou os olhos.

- Okay, mas ó... - Ela me encarou e sinalizou com dois dedos os próprios olhos. - Tô de olho, hein?

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora