Capítulo 14: A conversa

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EVA

Um monte de água jorrou no rosto de Manoel, o que me arrancou uma risada involuntária. Coloquei a mão na boca.

Pelo amor de Deus, Eva. Para com isso. Manoel podia ter se machucado. E se batesse a cara no bebedouro? Não adiantava. Nenhum argumento foi o bastante pra me fazer parar de rir.

Ri até me curvar um pouco para frente e me afastar um pouco das meninas. Júlia fez uma careta, completamente alheia à situação.

— Amiga, você tá bem? O que foi?

— Nada, não foi nada! — exclamei, sem fôlego. Quase não consegui formular a frase. Minha barriga doía.

Júlia riu, porém com cara de espanto.

— Nunca te vi rindo assim. Achei que tava passando mal.

Tecnicamente, eu estava. Mas sabia que era errado rir do que eu estava rindo. Só voltei a ficar séria quando as portas do elevador se abriram e entramos.

Há quanto tempo eu não ria desse jeito? Talvez fosse por isso que foi tão difícil parar. Riso acumulado dava nisso. Provavelmente eu riria mais depois, quando estivesse sozinha no meu quarto e me lembrasse do ocorrido.

Quando chegamos à praça de alimentação, compramos uns salgados numa das lanchonetes e nos sentamos numa mesa.

— Eva, enquanto discutimos as ideias, você podia ir anotando pra ter uma base pro roteiro - disse Diana, que era quase tão quieta quanto eu.

Eu assenti e retirei meu caderno da mochila. Enquanto elas falavam, cheias de planos, eu fazia as anotações, mas não conseguia contribuir com nenhuma ideia para o projeto. Parece que minha criatividade não funcionava quando estava em grupo ou me sentia sob pressão. O problema com as aulas do professor Bento era que sempre havia pressão, até o último dia do semestre.

A meia hora que tínhamos de intervalo passou voando e as meninas não conseguiram terminar seus lanches, mas eu sim.

Hora de voltar para a sala. A boa notícia é que a próxima aula era de Jornalismo Corporativo, que parecia mais fácil. Talvez fosse mais teórico, a menos que a professora Beth nos mandasse projetar uma empresa. No entanto, era improvável. Talvez, essa disciplina tivesse mais relação com assessoria de imprensa. Uma vez, eu li algo sobre isso na internet.

Chegando na sala, arrumamos as mesas, desfazendo os grupos. Júlia disse às meninas que criaria um grupo do projeto de radiojornalismo no whatsapp depois da aula.

— Então, amiga. Já escolheu sua optativa? — perguntou para mim.

Pior é que eu acabei esquecendo de olhar na área do aluno quais as opções que tínhamos.

— Ainda não.

— Queria tanto que você escolhesse Antropologia também. Peguei presencial, toda quinta, no primeiro horário. Vai ser no bloco B.

— Eu sei, mas não gosto disso. Queria algo diferente, Júlia.

Ela deu de ombros.

— Bom, você que sabe. Só não demora muito.

Eu assenti. Quando a professora entrou na sala, paramos de conversar e pegamos nossos materiais.

Para meu completo alívio, a professora Beth nos introduziu à aula com material histórico sobre jornalismo corporativo e não passou nenhum trabalho, só uns dois livros sobre assessoria de imprensa que podíamos pegar na biblioteca depois. Fiz anotações, porque eu tinha uma caderneta só com nomes de filmes, livros e documentários que os professores recomendavam para ver ou ler depois. Eu riscava os que já consumi.

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now