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O coveiro ajustou a corda com cuidado, enquanto o caixão começava a descer lentamente para o fundo da cova. O barulho das roldanas rangendo soava como um lamento mecânico, cortando o silêncio denso que pairava sobre todos.
Eu estava ali, parada na beira da sepultura, com as mãos cruzadas à frente do corpo, apertando com força os próprios dedos, como quem tenta impedir o peito de se partir. O vento soprava leve, mexendo os galhos das árvores, trazendo o cheiro úmido da terra recém-revolvida.
As flores brancas sobre o caixão tremularam uma última vez antes de sumirem da vista. Eu engolo seco, os olhos marejados, mas ainda tentando manter a compostura, como se o ato de desabar fosse uma traição ao amor que sentia.
Ao meu lado, minha mãe mantinha uma das mãos apoiadas em minhas costas, oferecendo um apoio silencioso. A filha dele, ajoelhada ao pé da cova, chorava compulsivamente, o rosto escondido entre os braços, incapaz de assistir à despedida final.
O padre fez um último sinal da cruz e murmurou:
— Que ele descanse em paz…
E então o coveiro começou a jogar as pás de terra. A cada pancada seca, o som reverberava fundo dentro dela, como se o mundo dissesse, com brutalidade, que era real. Que era definitivo.
Fecho os olhos e respirou fundo, sentindo o cheiro da terra misturado ao perfume das flores. O céu, até então fechado, abriu um rasgo tímido entre as nuvens, deixando um feixe pálido de luz atravessar o cemitério, iluminando brevemente o local onde ele agora descansava.
Me aproximo e jogo uma única rosa branca sobre o túmulo e, num fio de voz, sussurrou:
Hadassa: Vai com Deus… amor da minha vida.
E fiquei ali, imóvel, enquanto todos começavam a se afastar lentamente, como se o mundo tivesse pressa em seguir em frente, mas não tô sabendo dar o primeiro passo .
O enterro estava cheio de Empresários, colegas, políticos, conhecidos do bairro do Catete, amigos de infância, funcionários, gente que ele ajudou ao longo da vida. Muitos com roupas caras, óculos escuros, mas, ainda assim, incapazes de esconder a tristeza estampada nos rostos.
Ele era um homem conhecido, respeitado, de dinheiro — um daqueles nomes que todo mundo sabia quem era, mas que, para mim, era só o homem que acordava ao meu lado, que falava alto ao assistir futebol, que esquecia a toalha molhada na cama.
Agora, todos estavam ali, falando dele no passado, lembrando histórias, rindo baixinho entre lágrimas, trocando abraços demorados, como quem tenta, de alguma forma, suavizar a dor.
Eu ouvia as frases se repetindo:
— Que perda irreparável…
— Um homem de valor…
— Ele ajudou tanta gente…
O carro seguiu silencioso pelas ruas do Rio, cruzando o Túnel Rebouças, depois descendo em direção ao Catete. O trânsito fluía devagar, como se até a cidade estivesse de luto.
Eu estava no banco de trás, entre a minha mãe e a filha dele. Nenhuma das três dizia uma palavra. O silêncio era pesado, preenchido apenas pelo som abafado dos pneus no asfalto molhado.
A minha mãe segurava minha mão, acariciando levemente, sem dizer nada — o toque falava o que nenhuma palavra conseguia. A filha dele, encostada na janela, olhava para fora, com os olhos vermelhos e inchados, perdida em lembranças e arrependimentos que nunca mais poderiam ser resolvidos.

✨Hadassa✨Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora