A voz do Péricles ecoava forte pelos alto-falantes da quadra lotada. Cada acorde de cavaquinho, cada batida do pandeiro parecia tocar direto no meu peito. O sorriso que eu forçava pros flashes, pros amigos e até pro Renan — que tava ali do meu lado, todo cheio de marra, copo de whisky na mão — era só fachada.
Por dentro, era outra história.
O som da música, as letras de amor, saudade, recomeço… tudo misturado com o clima daquele pagode, fazia a minha mente viajar. Eu nem ouvia direito mais o burburinho em volta. Não era mais a quadra da Mangueira que eu enxergava, era o Catete. A sala enorme, cheia de móveis que Rogério tinha escolhido. As viagens, os jantares chiques, os planos... tudo virou lembrança.
Como que a vida tinha mudado tão rápido? De mulher de empresário, cheia de regalias, pra dona de loja na VK, correndo atrás do meu e me envolvendo com um traficante. Não que eu se envergonhasse. Pelo contrário. Eu tinha orgulho da mulher que tava se tornando, de ter se reerguido depois do tombo. Mas ali, naquela hora, naquele show, o buraco da saudade abriu de novo.
O refrão bateu forte:
"Hoje eu sonhei com você, saudades me faz sofrer. Tantas lembranças no ar, me fazem chorar...".
Os olhos encheram d’água. Disfarcei, virei o rosto, fingi que tava olhando o camarote do lado. Mas dentro, o peito ardia. O marido… o homem que um dia eu jurei que seria pra vida inteira, não tava mais ali. Não ia ver minhas lojas crescendo. Não ia ver a mulher mais forte que eu virei. Nem conhecer o tanto de histórias novas que eu vinha vivendo.
Respirava fundo, tentava controlar. Não queria cena. Não queria que ninguém percebesse. Ainda mais com o Renan ali, colado em mim, rindo com os parceiros. Hyurica agarradinha com o Kaio, ele colou aqui nela e largou mais não. Layla sofrendo com cada música, já vi até ela limpando algumas lágrimas que resolveram cair. O bofe que ela diz gostar está no camarote ao lado, agarrado com a mulher. Aí eu te pergunto: isso é vida? Não é não. Mas por mais que tentasse, a garganta apertava.
"Deixa estar, O tempo é o mestre pro teu choro enxugar. Deixa estar...Devagar Deus da uma força, as coisas voltam pro lugar. Já amei
Como você ta amando todo mundo amou um dia
Já chorei como você ta chorando já vivi essa agonia. É o amor, É o amor..."
ri amargo, passando a mão no rosto pra limpar discretamente uma lágrima que insistia em cair. Como não mexia? Como não doía? Mexia e muito. Porque ali, entre um verso e outro, eu não ouvia só música... ouvia o passado, ouvia a saudade, ouvia o grito do peito pedindo pra ser feliz de novo, mesmo sem saber como.
Hyurica: Tá bem, Dassa? — perguntou a irmã, se aproximando.
Respirei fundo e forcei um sorriso.
Hadassa: Tô... é que essas música do Péricles bate diferente, né... — respondi, com a voz meio embargada.
Hyurica me puxou pra mais perto, abraçando de lado. encostei um pouco, tentando se recompor. Mas sabia: aquela noite não ia ser de alegria, não pra mim. Ia ser de lembrar. E de tentar se perdoar por ainda sentir tanta falta... mesmo depois de tudo.
Narração em terceira pessoa....
Henrique estava curtindo show do Péricles "agarrado" com Viviane. Porém ele não conseguia focar mais em nada, a não ser em uma pessoa que está no outro camarote... Hadassa.
Ele já não tinha mais vontade de ficar ali e tudo piorou quando ele foi atrás dela e ela não quis papo. Ainda disse na cara dele que estava muito bem acompanhada. Qual homem vai gostar de ouvir isso saindo da boca da mulher que está apaixonado? E ela nem está se referindo a ele. Henrique tava puto.
Semicerrando os olhos, Henrique viu que Hadassa não estava bem.
"Essa mulher não tá bem hoje, não..."
Conhecia aquele olhar. Quantas vezes já não tinha visto nas madrugadas que passaram juntos? Quando ela deixava escapar a dor que carregava por dentro.
A música não ajudava: Péricles soltando um pagode sofrido atrás do outro. Ele viu quando ela passou a mão no rosto, disfarçando a lágrima. Ali o peito de Henrique apertou.
"Tá lembrando do finado, certeza..."
Henrique ficou na dúvida, remoendo. A vontade era atravessar o salão, puxar ela num canto, perguntar se precisava de alguma coisa, dar um colo — mesmo que ele mesmo vivesse em conflito com esse sentimento que crescia por ela. Mas a situação era delicada: tava com os amigos, o vereador do lado, e a mulher dele — Viviane — que já andava desconfiada dos olhares que ele lançava pra Hadassa.
Deu um gole longo no whisky, os olhos não saíam dela. Tinha que se controlar. Mas se conhecia: em algum momento da noite ia dar um jeito de chegar nela, de novo.
Depois de um tempo, Henrique pegou a visão dela saindo acompanhada com as garotas e sorte ou não... Seu sobrinho chamou o bonde pra dar uma volta.
DU LIEST GERADE
✨Hadassa✨
Kurzgeschichten✨Que o destino traçou Que não me deixa em paz Sou eu sua doença Você minha cura...✨
