Chegou o grande dia da minha mudança. Levou um tempo, pois esperei minha mãe arrumar uma das casas que ela alugava na favela. De vez em quando eu iria lá dar uns ajustes e deixar as coisas do meu jeito. O apartamento não vou alugar, vai ficar aqui e o meu viado de vez em quando vai vim aqui abrir as janelas, deixar o ar entrar. Ainda não desfiz nada, não tive coragem, não agora, quem sabe um outro dia. Estou levando algumas malas e só. As coisas da casa iriam ficar, vou levar nada. Se é pra recomeçar, vamos recomeçar com tudo novo.
Hyurica: você poderia me doar algumas roupas em. - disse empurrando a mala e colocando na sala. no total eram 4 malas.
Hadassa: Tenho muita coisa pra dar mesmo. Quando eu for fazer a limpa, eu te falo. Bora? - ela assentiu.
E foi ali que deixei uma história de anos pra trás. Meu coração estava despedaçado, mas tenho que seguir.
Hyurica já estava acomodada no banco do carona, com os pés apoiados no painel e o olhar curioso acompanhando cada movimento meu.
— Tá pronta? — perguntei enquanto ajeitava os óculos escuros e conferia, mais uma vez, se todas as malas estavam bem presas no porta-malas espaçoso.
Hyurica deu um sorriso sapeca. — Nasci pronta!
Respirei fundo, girei a chave e o motor potente respondeu com um rugido macio e confiante. Enquanto desciamos as ruas estreitas do Catete, cruzando pela última vez os lugares que tanto conhecia, o ar era uma mistura de nostalgia e adrenalina.
O carro cruzou a cidade com facilidade, deixando para trás a Zona Sul e se lançando pela Avenida Brasil rumo à Vila Kennedy. O rádio tocava uma batida envolvente, e Hyurica, sempre animada, fazia pequenos comentários sobre os bairros pelos quais passavamos.
Eu mantinha as mãos firmes no volante, o olhar decidido e o coração apertado — mas também cheio de esperança. Não era só uma mudança de endereço. Era uma travessia, um novo capítulo, escrito ao volante do carro que, agora, era símbolo de força, memória e liberdade.
Hyurica: quem diria, hein? — comentou Hyurica, com um brilho nos olhos.
Sorri de canto, pisei um pouco mais fundo no acelerador e respondi — Nova vida.
E seguimos assim, irmãs e cúmplices, levando malas, lembranças e sonhos, embaladas pelo ronco elegante do carrão que nós guiava para o meu recomeço.
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✨Hadassa✨
Short Story✨Que o destino traçou Que não me deixa em paz Sou eu sua doença Você minha cura...✨
