53✨

405 56 0
                                        

O sábado amanheceu daquele jeito: sol forte, céu azul sem nenhuma nuvem, e o barulho da comunidade já começando cedo, com a criançada correndo, o vizinho botando o som no talo e o cheirinho de café preto passando pelas frestas das casas.
Abri os olhos antes mesmo do despertador tocar. Me espreguicei, olhei pela janela e sorri: dia perfeito pra dar aquele rolê na feira. Levantei e joguei uma água no corpo, coloquei um short jeans, um cropped branco, prendi o cabelo num coque alto, passei um gloss, arrumei minha cama e fui pra sala. Tomei meus 500 ml de água em jejum. Peguei meu celular e liguei pra minha mãe.
_ Oi filha, aconteceu alguma coisa?
Hadassa: Já levantou pra cuspir? Quero ir na feira.
_ 15 minutos e tô batendo aí.
Hadassa: Ta bom! _ desliguei. Sentei no sofá e fiquei encarando a tv de 65 polegadas desligada. Passei um olhar pela sala e me peguei pensando - quem diria eu voltando morar na vila Kennedy. A vida nos prega cada coisa, né? Comecei a lembrar dos planos pro futuro que eu e Rogério fazíamos. Coração começou apertar, meus olhos se encheram de lágrimas, mas fui interrompida com a voz da minha mãe me gritando de fora. Respirei fundo e me ergui. Peguei minhas coisas, tranquei a casa e sai.
Leandra: Já tinha acordado, já. Estava botando roupa pra lavar.
Hadassa: E cadê sua moto?
Leandra: Aqueles bichos que destroem tudo ferraram ela todinha, tá na oficina. Eu não empresto mais nada pros seus irmãos e faz o mesmo em, aqueles dois tem cuidado com nadaaa.
— E aí, Hadassa! Voltou de vez? — gritou o Seu Zé da esquina, me viu crescer.
Hadassa: Voltei, Seu Zé! Agora é só alegria! — respondeu ele, rindo.
Chegamos na feira e o clima tava daquele jeito que só quem vive sabe: barraquinhas coloridas, gente falando alto, sacolas cheias, o cheiro de fruta madura misturado com fritura e o grito dos feirantes:
— Olha a batata! Tá barata! Dois reais o quilo!
fui logo escolhendo a couve, pegando alho, tomate, enquanto a minha mãe negociava o preço do peixe com o feirante.
— Leva mais, dona! Tá fresquinho! — dizia ele.
Depois de algumas sacolas cheias, paramos no clássico: a barraca de pastel.
— um de carne, um de queijo e um caldo de cana, por favor! — pedi, já sentando naquelas cadeirinhas de plástico.
Enquanto mordia o pastel, ainda quente e crocante, vi alguns conhecidos passando.
— Ihhhh, Hadassa! Tá sumida, hein! — gritou uma antiga amiga, acenando de longe.
Hadassa: Tô de volta, bebê! — respondi ela, rindo e mandando beijo.
Depois da feira, voltamos pra casa cheias de sacolas, já fazendo planos pro almoço. Cheguei em casa já guardando tudo na cozinha moderna, abri todas as janelas e, sem pensar duas vezes, liguei o som.
Começou baixinho, só pra dar o clima, mas logo aumentei: Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, só clássico. Peguei o balde, pano de chão, aquele cheirinho de desinfetante, e comecei a arrumar a casa.
Enquanto passava o pano na sala, dava aquele passinho de samba, cantando junto, alto, feliz, com a brisa entrando pela janela e a luz do sol batendo no porcelanato brilhando.
Hadassa:  Deixa a vida me levar… vida leva eu… — cantava, dançando com o rodo na mão.
Minha mãe, sentada na varanda, tomando café, só observava e ria:
Leandra: Não muda nunca, hein, menina!
Ri, ergui  o pano de chão como se fosse um troféu e respondi
Hadassa: Aqui é disposição, mãe!
E assim foi a manhã: casa limpa, geladeira cheia das compras da feira, música boa rolando, o cheirinho de casa arrumada se espalhando. A comunidade lá fora seguia no movimento, mas ali, naquele lar todo montado,eu  estava tranquila, feliz e grata.

✨Hadassa✨Where stories live. Discover now