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Abri o portão e entrei na frente, ele veio atrás. Sentei no banco que tinha ali. O céu estava estrelado, um calor abafado porém gostoso. Ele caminhava em passos lentos, como se tivesse carregando chumbo nos pés. Ele sentou do meu lado. Ficou me olhando por longos segundos e depois seu olhar parou na minha barriga. E então, com a voz baixa, mas cheia de medo, ele perguntou:
Henrique: É meu? - respirei fundo. Mantive os olhos no dele e sem rodeio, respondi:
Hadassa: Sim, é seu. - Ele fechou os olhos, como se tivesse levado um soco no peito. Passou a mão na nuca, e a perna começou a balançar sem controle.
Henrique: E porque você não me contou? Não foi atrás de mim? Porque tu foi pra Bahia, do nada? Mudou de número e tudo, não deixou tua irmã me dar seu número?
Hadassa: Eu estava tentando colocar em ordem o que você bagunçou e com isso eu tive que me distanciar de você. E sobre a criança... Eu descobri lá. Não sei quantos meses estou, mas agora que descobri parece que cada dia que passa ela cresce mais. - dei uma riso abafado.
Henrique: Você já marcou médico?
Hadassa: Já. Sexta feira, lá em Botafogo.
Henrique: Eu quero fazer parte da sua gravidez, Hadassa. Independente de qualquer bagulho, eu sou o pai e eu quero fazer parte disso.
Hadassa: E você vai... Não vou te impedir de nada. Porém o filho é seu, mas a paz é minha. Eu não quero problemas pra mim não e nem dor de cabeça. Você tá entendendo o quê estou querendo dizer, né?
Henrique: Viviane vai embora, vai voltar pra 48. - então ela já sabia de tudo.
Hadassa: Eu não quero saber de nada não. E outra... Não é porque você virou pai de um filho meu e sua mulher te deixou, que eu vou te dar brecha não. Tu vai respeitar o meu espaço e entender que aqui não é sua casa. E que eu não sou tua mulher. A dois meses atrás eu te pedia só uma coisa e o quê você fez? Não conseguiu resolver. Mas sabe o que me matou depois… foi ter que aceitar que o homem que me fez mãe…
também me fez ir embora. Eu voltei, mas pra você eu não volto. A tua função agora é cuidar e não conquistar. - parei pra respirar um pouco. Ele continuou calado, encarando o chão.
Henrique: Você tá diferente...
Hadassa: Tô. Tô farta dessa bagunça toda e agora tô mãe.
Henrique: Me perdoa por tudo que te causei, de coração. Tô me sentindo um merda por ter chegado a esse ponto tanto pra você e tanto pra Viviane. Fui covarde com as duas, eu confesso e sei do meu erro. Eu vou te deixar em paz, quero que sua gravidez seja tranquila. Mas quero saber de tudo. Quero aprender contigo, se você deixar.
Porque… mesmo tendo perdido o direito de te ter,
eu quero merecer o direito de ser pai do nosso filho.
Assenti. Baixei os olhos pra minha barriga e murmurei:
Hadassa: Então começa sendo homem.
O resto, a gente vê com o tempo. - ele assentiu com a cabeça.
Henrique: Posso te pedir uma coisa? Faz o pré natal aqui na favela, quero acompanhar de perto a sua gestação.
Hadassa: Vou ver sobre isso e irei te deixar informado de tudo.
Henrique: Eu te amei, Hadassa.
Na bagunça, no erro, no silêncio.
E ainda amo.
Mas agora eu amo diferente.
Eu amo com arrependimento, com saudade e com a consciência de que talvez seja tarde.
Hadassa: Henrique...
Henrique: Eu não tô falando isso pra te prender, nem pra te comover. Tô falando porque é real.
Porque se tu me deixar ser pai, eu vou ser.
Mas se um dia tu olhar pra mim e ainda tiver espaço…eu vou lutar pra preencher ele com respeito.Com presença.Com amor de verdade.
E esse filho que cresce aí… é a chance de eu recomeçar certo. De ser o homem que você merecia lá atrás, mesmo que agora…seja só como pai.

✨Hadassa✨Where stories live. Discover now