O segundo dia na Bahia amanheceu com céu limpo e brisa suave. desci pro café da manhã com outro semblante. Pele bronzeada, sorriso leve, vestido florido e cabelo preso num coque bagunçado. Eu já não era só hóspede; já andava pelo hotel como quem pertencia àquele pedaço de mundo.
Enquanto tomava meu café no terraço, uma mulher se aproximou da mesa ao lado. Negra, de pele reluzente, olhos vivos e um turbante amarelo vibrante.
— Bom dia, minha flor. Posso sentar aqui? - perguntou com simpatia baiana.
Hadassa: Claro - respondi sorrindo. — A Bahia é sua.
A mulher riu.
— E agora é sua também. Te vi ontem dançando ali no Pelô. Você tem axé no sangue, viu?
se apresentamos. O nome da mulher era Jurema, artesã, filha de Iansã, nascida e criada no Candomblé, mas cheia de fé na vida acima de tudo. Uma força da natureza. Em poucos minutos, já conversamos como velhas conhecidas. Jurema era daquelas que lia a alma pelas entrelinhas.
Jurema: Você tem ferida recente... mas também tem coragem. Não é todo mundo que larga o que machuca pra se curar. Você se deu esse presente, menina. Agora aproveita.
Mais tarde, sai com Jurema pra conhecer o Mercado Modelo. Lá, me encantei com cada canto: panos estampados, colares de búzios, estátuas de orixás, incensos, camisetas com frases engraçadas, cheiros fortes e doces. Comprei uma saia rodada colorida, um par de brincos enormes, uma fitinha do Senhor do Bonfim e uma pulseira de contas que Jurema disse que era pra proteger o coração.
Jurema: Essa aí é feita por mim. Proteção de mulher pra mulher. Porque homem nenhum vai sugar mais sua força. — falou, amarrando no meu braço com firmeza.
À tarde, fomos até uma comunidade no subúrbio de Salvador, onde Jurema dava oficinas de arte. Lá, conheci crianças sorridentes, mulheres que dançavam forró na calçada, senhoras que contavam causos antigos e homens que a chamavam de “princesa do Rio”.
Hadassa: Vocês têm uma alegria que não se explica.
— A gente tem fé. E fé é a única coisa que não se compra. - respondeu uma senhora, sorrindo com dentes de ouro.
À noite, fui com Jurema a um luau numa praia escondida. Fogueira acesa, tambores tocando, vinho passado de mão em mão e gente dançando descalça na areia. Lá conheci Tiago, um músico de voz rouca e jeito calmo, que tocava violão como se fosse parte do próprio corpo. Ele me convidou pra dançar um samba de roda, e eu fui. Ri até chorar.
Tiago: O que te trouxe pra cá? — perguntou ele, curioso.
Hadassa: Eu me trouxe. Cansei de esperar ser prioridade na vida de quem me via como opção. — respondi, sem peso.
Tiago apenas olhou nos meus olhos e sorriu.
Tiago: Então você veio no lugar certo. Porque aqui, a gente aprende a ser inteira.
Jurema se aproximou. Os olhos dela brilhavam como se soubessem de algo que nem o universo tinha coragem de dizer em voz alta.
Ela sentou ao meu lado, passou as mãos nas contas que usava no pescoço, e respirou fundo. Depois, sem rodeios, disse:
Jurema: Hadassa... tem algo crescendo dentro de você.
Na hora meu coração acelerou.
Hadassa: Como assim? — perguntei, com o olhar fixo no fogo.
Ela segurou minha mão, firme. Olhou nos meus olhos como quem olha além da carne.
Jurema: Não é só sentimento reprimido. Não é mágoa. Não é saudade. É uma semente. Uma vida. Um caminho novo... dentro de você. E você nem sabe.
Eu ri de nervoso, tentando desviar.
Hadassa: Tá me dizendo que tô grávida, é isso?
Jurema: Eu tô dizendo que o seu corpo já sabe. E que a Bahia te trouxe até aqui pra você escutar ele. Tem algo aí... frágil, pequeno, mas cheio de missão. E você precisa cuidar disso agora, mesmo sem entender.
Meu riso morreu na boca.
Minha mão foi instintivamente até o ventre.

ESTÁS LEYENDO
✨Hadassa✨
Historia Corta✨Que o destino traçou Que não me deixa em paz Sou eu sua doença Você minha cura...✨